Janeway e eu

 

Se tem uma série científica da qual todo mundo já ouviu falar foi Star Trek.Inegável sucesso que este seriado fez desde a década de 60 e estendendo-se além da série clássica, gerou filmes,novos seriados, produtos para os fãs e inspirou o lançamento de outros seriados com enfoque em viagens estelares.

Devo admitir que não acompanhei a série como a maioria dos fãs. Cheguei a ver alguns episódios de Star Trek Nova Geração na televisão aberta e recentemente fui apresentada aos demais seguimentos da franquia, depois de anos. Um desses seguimentos foi Star Trek Voyager.

O que há de tão especial nesse seriado? Kathryn Janeway.Mas quem é Janeway? Janeway é a capitã da nave estelar Voyager, que se perde no Quadrante Delta da Galáxia, a uma distância de 70 mil anos luz da Terra, uma distância que demoraria 70 anos de sua vida para ser percorrida. A partir daí é que toda a série se desenrola e Janeway enfrenta diversos desafios.

Star Trek Voyager. Paramount Inc / Divulgação Oficial

 

E porque eu gosto da Janeway? Porque diferente do modo como as mulheres são retratadas no cinema como seres frágeis que a todo momento precisam da ajuda de um homem pois não sabem se virar sozinhas, Janeway é independente e toma suas próprias decisões, mesmo algumas destas indo contra o que o seu primeiro oficial, Chakotay, pensa sobre o assunto ( outro ponto interessante é Chakotay ser indígena, mas isso é assunto pra outra história). Não é fascinante? Numa sociedade atual onde a mulher é sempre posta à prova por sua capacidade apenas pelo fato de ser mulher, não é um bálsamo ver uma mulher num posto de comando e ter suas ordens ouvidas e cumpridas?

Janeway e Chakotay. Paramount / Divulgação oficial

Apesar do número estar aumentando, ainda são poucas as mulheres atualmente que alcançam cargos de chefia nas grandes empresas, e isto se dá tanto pelo preconceito que se tem de mulheres em assumir esses cargos como pelo fato das próprias mulheres não se sentirem aptas para desenvolver esses cargos de comando. Quem fala disso com propriedade é Sheryl Sandberg, Chefe de Operações do Facebook em sua palestra no TED, que pode ser vista aqui.

Mas voltando para a Janeway e  Star Trek Voyager, algo que me fez gostar da série foi justamente isso: a capitã da nave ser uma mulher e o fato de ela não ter que se transformar em um “homem” para ganhar respeito, muito menos ter atitudes ambíguas apenas por ser uma mulher.

Apesar de ser uma capitã de uma nave estelar percebe-se que ela não abre mão das suas, digamos, características femininas, para ser uma boa liderança. Ela se preocupa com sua tripulação  e diversas vezes colocou-se em risco de morte para salvar algum integrante de sua tripulação. Um exemplo deste fato é quando a personagem Sete de Nove, interpretada por Jerry Ryan, é raptada pelos Borgs no episódio Dark Frontier, da quinta temporada, e Janeway ruma para a Unimatriz Um para resgatá-la. (Se você nunca assistiu Star Trek e nem muito menos conhece os Borgs, digamos que o que Janeway fez foi basicamente uma missão suicida!)

Unimatriz 1, o reino dos Borgs. Paramount Inc/ Divulgação oficial

E o que mais dizer de Janeway?Sua liderança vai muito além do arquétipo de mulheres fortes retratadas em seriados. Ela vai além disso, mostrando que não é necessário encarnar características masculinas ao extremo para se tornar uma grande líder. O processo de humanização da personagem Sete de Nove guiado por Janeway é, perdoem-me os eufemismos, maravilhoso, onde Janeway oferece todo o apoio e demonstra uma sensibilidade tamanha para que Sete de Nove recupere sua individualidade perdida quando foi assimilada pelos Borgs enquanto criança ( o desenrolar desse processo pode ser acompanhado a partir da quarta temporada da série).

Janeway e Sete de Nove. Paramount Inc / Divulgação oficial

De fato, a personagem de Kathryn Janeway me inspirou e ainda me inspira a me valorizar  enquanto mulher e também a muitas outras mulheres. Desejo sinceramente do fundo do meu coração que Janeway continue a inspirar muitas mulheres a conquistar postos de liderança, contribuindo assim para uma igualdade de gêneros dentro da nossa sociedade.

P.S. Um texto bem legal sobre arquétipos em seriados de ficção científica é uma tese de mestrado da Anita Sarkeesian do Feminist Frequency. Está em inglês e você pode acessá-lo aqui.