Sempre que leio o termo “crime passional” estampado nas páginas de jornal meu estômago embrulha. O termo parece justificar qualquer violência. “Ah coitado, estava tão apaixonado que matou a mulher”. É isso que está subentendido quando repórteres escrevem crime passional, para se referir a um caso em que um homem mata uma mulher. E é assim que vejo as pessoas se referindo a um crime horrendo.
Desde que comecei a ser repórter de Cidades, percebi que essa é também a forma como a Polícia trata crimes cometidos contra mulheres. Sendo que em sua maioria os autores são seus próprios companheiros.
Percebi, então, que o problema é mais complexo. Ou seja, não são só @s jornalistas que não entendem que um crime contra mulher não pode ser justificado por “uma paixão arrebatadora”. A própria polícia vê assim também. A sociedade claro, enxerga assim.

O termo feminicídio ainda é desconhecido dos brasileiros. Parece quase um palavrão. “O quêêê???? Feminicídio? Isso não existe não”, costumam me responder.
Ora, feminicídio é “o assassinato de mulheres por motivo de gênero em meio a formas de dominação, exercício de poder e controle sobre as mesmas”. Então, quando um homem mata sua esposa, isso é feminicídio. Quando um homem espanca a namorada até a morte isso é feminicídio.
O homem que faz isso, não faz porque está apaixonado. Ele faz isso porque acha que dispõe do corpo e da alma da sua mulher. O homem faz isso porque acha que a mulher é inferior, não é sujeito; é objeto.
E a mídia segue reiterando essa ideia de que as mulheres são menores, que crimes em que mulheres morrem nas mãos de seus companheiros ou nas mãos de estranhos, pelo simples fato de serem mulheres é justificável; continuam chamando esse crime de “passional”. E a Polícia segue fazendo o mesmo. E a sociedade perpetua isso por aí. Afinal, é amor, não é mesmo?
Quero acreditar que @s colegas jornalistas façam isso por falta de conhecimento, embora sejamos metidos a saber de tudo, e não porque acreditam mesmo que mulheres são seres inferiores e que crimes de gênero não existem.