A lista de discussão das blogueiras feministas é composta por mais de 500 pessoas. Está aberta para a participação de mulheres e homens que se identificam com o feminismo – ninguém é cobrado quanto a tendências teóricas ou posicionamento partidário, condição social, orientação sexual ou cor da pele. A lista está aberta para toda e qualquer discussão que envolva feminismo e os textos que são publicados no blog podem ou não ter relação com as discussões da lista.
Apesar da total abertura que existe para a participação de feministas de todas as cores e tendências, ainda assim a experiência prática tem nos mostrado que falta diversidade nos temas do nosso blog (textos sobre mulheres negras e LGBTS, por exemplo, são recortes pouco explorados) e nas imagens que utilizamos em nossos posts – a maioria é emprestada de bancos com licença livre, o que reduz bastante as opções.
Essa falta de diversidade é reconhecida pela ampla maioria dos membros da lista. Há uma simpatia em relação às causas das mulheres negras, das lésbicas, bissexuais, transgêneros, pobres, poliamoristas, prostitutas, entre outras. Se a publicação de textos e imagens que materializem essa diversidade é pequena, por outro lado não existe nenhum tipo de censura a esses conteúdos. Quem se habilitar a escrever sempre encontra as portas abertas para a publicação de textos sobre esses temas.
Tudo isso nos leva à seguinte reflexão: se há abertura para se falar de todos os temas, e se promover a diversidade é um valor do nosso feminismo, por que isso não acontece na prática?
Algumas explicações são de ordem técnica – buscar imagens que tenham mais diversidade no flickr é bem trabalhoso pois o mundo digital não reflete a diversidade das ruas. Refinar a busca leva tempo e os autores preferem dedicar mais tempo ao texto do que a imagem.
Outras explicações são de ordem econômica e social – o perfil das pessoas que têm acesso a internet no Brasil é privilegiado, excluindo diferentes camadas sociais. Como esperar que o blog tenha uma cara mais diversificada se os membros da lista acabam passando por esse crivo econômico “invisível”?

Se procurarmos mais motivos, encontraremos. Mas nada disso pode servir de justificativa para nos contentarmos com o status quo. Essa tendência de reproduzir discursos mais ou menos homogêneos não é obra do destino, nem do acaso. Portanto, temos o poder de influenciar esse cenário. Podemos pensar em políticas para driblar essas barreiras – Vamos entrevistar? Fazer matérias? Convidar pessoas para escreverem artigos direcionados? Podemos também escrever, apenas escrever – uma vez que a diversidade está no mundo, é só olhar no olho do outro. Às vezes escrever para reconhecer é legitimar uma luta, é se solidarizar: é não deixar cair no esquecimento.
Há muito trabalho por fazer no campo do discurso. Podemos fazer o trabalho de reconhecimento que a imprensa não faz, que a publicidade não faz, que outros espaços de debate público deixam de fazer por não reconhecerem na diversidade um valor a ser defendido. Não vai ser de uma hora pra outra que vamos conseguir sair da nossa zona de conforto mas é preciso começar a plantar. Se não escolhemos a cor da pele com que nascemos, nem a condição social, nem o sexo, ainda assim podemos escolher falar sobre as injustiças que vemos ao nosso redor.
Podemos começar participando da Blogagem Coletiva do Dia da Consciência Negra, uma ótima oportunidade para exercitarmos a empatia! E vamos escrever também nos outros dias do ano, pois sempre é tempo de semear a diversidade.