Crise dos 30

Cedo ou tarde você vai se deparar com essa idade. Homem ou mulher, não importa, a sociedade se acha no direito de cobrar algo de você. Algo que você nem mesmo sabe o que é, mas se sente cobrado.

A nossa vidinha terrena é um mar de incertezas, passamos por muitas coisas para nos tornarmos quem somos e mesmo assim nem sabemos quem realmente somos. A conhecida “Crise dos 30”, segundo a nossa sociedade patriarcal capitalista, é o prelúdio de que a juventude começou a ficar para trás, você já não é mais adolescente. Agora, mais do que nunca, deve saber o que quer da vida ou será tarde demais.

Casou? Teve filhos? É bem sucedid@? Se você não respondeu afirmativamente a nenhuma dessas perguntas provavelmente será queimado na Fogueira da Santa Inquisição.

O mais surreal é que sabemos que nada disso define quem somos e o que esperamos de nós mesmos. Juventude não é só idade e a felicidade não tem fórmula, mas mesmo assim nos deixamos assolar por esse fantasma. Mesmo assim achamos que estão no direito de nos colocar prazos de validade e nos rotularem. Como se fossemos mais um produto no mercado que está prestes a sair de linha, se alguém não consumir em até 3 dias.

Sei que para os homens não é fácil também, mas para as mulheres é mais complicado, principalmente para aquelas que querem ser mães e não encontraram um parceir@ cert@. Ou, as que não tem certeza se querem prosseguir com uma gravidez unilateral, mas tem medo de ficar para ‘titia’.

Você pode ignorar como quiser, mas essa perseguição vai te incomodar. Lá no fundo vão plantar uma sementinha da dúvida. E, as incertezas a cerca do que você é, e o que quer, vão aumentar.

“Quarto de Hotel”, obra de Edward Hopper

A nossa vida passou do que somos para o que temos e aparentamos ser. Trocamos nossos valores por valoR$. E, em meio a toda essa problemática a mulher é quem mais sofre com isso. Seja a sociedade indiretamente ou seus parentes com aquelas perguntinhas indiscretas, você se sente pressionad@, não importa de onde vem. Mas vem e machuca.

A “Crise dos 30” é um paradigma, que a meu ver deve ser quebrado. Não podemos permitir que ditem o que, quando e como devemos levar as nossas vidas. Cedo ou tarde vamos envelhecer, e por mais que pintemos os cabelos, sempre haverá uma raizinha branca ali tentando nos lembrar que somos mortais. Enquanto seres humanos temos um ciclo de vida, não este socialmente estabelecido, mas um ciclo natural que é lindo e que mostra que vivemos, fracassamos e nos arrependemos (muito, às vezes), mas que de certa forma o completamos.

Nosso ciclo vai acabar uma hora, mas isso não deve ser nos 30 anos. Afinal, não é porque vivemos num sistema capitalista que devemos ser tratados como mercadoria. E se pensarmos nisso, vamos ver que a “Crise dos 30” é só um mito que sustenta um padrão social de vida e insegurança.

Insegurança esta que será alimentada por toda nossa vida se permitimos.