Eu posso, tu podes, nós podemos!

Sabe quando você sente que tá exatamente onde deveria estar?

É o que eu sinto quando tô nas mobilizações, especialmente nas das mulheres.

Nesses dois dias (16 e 17 de agosto) tô junto com dezenas de milhares de mulheres na Marcha das Margaridas.

Já falamos sobre a Marcha aqui no blog, e não tenho a pretensão de reunir neste post todo o conteúdo político que essa mobilização traz.

Essa é a maior mobilização das mulheres trabalhadoras rurais do Brasil. É organizada pelas mulheres da Contag e por várias organizações e movimentos parceiros, entre eles – e desde a primeira edição – a Marcha Mundial das Mulheres (da qual sou parte).

A primeira Marcha das Margaridas aconteceu em 2000, assim como o lançamento da Marcha Mundial das Mulheres, com 2 mil razões para marchar contra a pobreza e a violência. Aí eu já tô tentada a recontar essa história, mas tem nos nossos sites caso alguém se interesse =)

No feminismo tem uma palavra que sempre aparece que é “empoderamento”. Isso que tá acontecendo aqui é mais que empoderamento. É poder. E não é só um jogo de palavras. Mas talvez eu não consiga explicar.

São milhares de mulheres. Trabalhadoras. Rurais, do campo e da floresta. Algumas urbanas. Pra cada uma dessas mulheres estarem aqui, rolaram debates, vendas de rifa, brechós, festas e livro ouro. Mais que isso, para muitas rolou negociação em casa, pra ver quem ficava com os filhos, ou porque tem um marido mala, controlador e por vezes violento que não acha tranquilo a mulher sair durante tantos dias pra ir pra uma luta. Dela. Com autonomia.
Pra muitas, foi a primeira viagem pra fora de seu estado. E pra cada uma dessas mulheres tem mais um montão que fez os debates, vendeu rifa, mas não pode vir por vários motivos.

 

Mulheres na Cidade das Margaridas - Foto: Divulgação

Então, o “simples” fato de uma manifestação desse porte, de mulheres, acontecer já é poder. E poder é um verbo né? Que a gente conjuga com “eu posso” ou “nós podemos”. Uma mobilização destas fortalece todas as mulheres em luta, porque mostra pra esse mundo machista que nós podemos mudá-lo.
Cada vez que a gente faz uma ação grande e incisiva, auto-organizada, o conjunto das pessoas e movimentos com os quais nos relacionamos nos olha de outra forma. Nos respeita mais, porque tem que nos respeitar e nos ouvir. Porque nós somos muitas, estamos organizadas e só vamos parar quando todas formos livres. Chama correlação de forças e tá pra além do discurso das relações de gênero.

Aqui as mulheres, Margaridas, são um sujeito político. É uma construção feminista, popular e militante. A nossa plataforma aqui articula as questões mais gerais de mudança do modelo com as questões mais concretas da vida de cada uma das mulheres que no dia a dia produz os alimentos que vão parar nas mesas da cidade.

Então elas afirmam aqui a agroecologia e lutam contra os agrotóxicos e o agronegócio. Isso é feminismo? É. Porque a agroecologia é uma construção que, por algumas construções sociais, as mulheres levam a frente. Aí elas tem que batalhar pra serem reconhecidas como trabalhadoras, agricultoras. E junto com isso dizer que precisam compartilhar com os homens e o Estado o cuidado com os filhos, pra ter mais autonomia sobre seu tempo e trabalho. E junto com isso dizer que precisam de políticas de crédito direto pra elas, desvinculada das dividas de seus maridos (ó a autonomia aí).

E junto com isso elas também dizem que tem direito a uma vida sem violência e que querem decidir sobre seus próprios corpos. Esse é o feminismo que estamos compartilhando aqui nesses 2 dias e há pouco mais de 10 anos.
Seguiremos em marcha ate que todas sejamos livres!