Mulher indígena: como anda a sua saúde?

Indígenas. Quando lemos esta palavra logo nos vem à mente pessoas seminuas, com os corpos pintados e cocares de penas na cabeça. Será que a realidade é mesmo esta?

O contato das populações indígenas com as civilizações ocidentais mudaram muito a nossa concepção de índígenas. Hoje, muitas populações indígenas estão aculturadas ao estilo de vida ocidental. Usam roupas, falam ao celular e possuem os mesmos direitos que todos os cidadãos brasileiros, incluso aí o acesso à saúde pública.

Apesar dos indígenas possuírem um status de igualdade de direitos no país, devemos reconhecer que as populações indígenas detêm demandas particulares devido aos seus aspectos culturais. Para tanto existem órgãos que cuidam dessas demandas, tais como a FUNAI – Fundação Nacional do Índio, que é responsável pela promoção da política indigenista no país.

Mulher indígena da etnia Cinta Larga. Foto: Arquivo Oficial da Funai – Fundação Nacional do Índio.

Mas quem cuida da saúde indígena?

Por muito tempo cuidar da saúde indígena foi uma atribuição da FUNAI. Então, em 2010, foi criada a SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde, para atender a população indígena no tocante às ações de saúde para a população indígena, bem como oordenar a implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

Mas cabe perguntar agora: quais as ações voltadas à saúde da mulher indígena?

Tais quais as políticas voltadas para a população não-índia, o tema da promoção da saúde reprodutiva é uma constante nas políticas públicas voltadas para as mulheres indígenas, com a implementação da Rede Cegonha Indígena e campanhas de câncer de útero e mama. Longe de dizer que a saúde reprodutiva não mereça atenção, mas será que a saúde da mulher indígena se resume apenas a isto?

Segundo Luciana Ferreira, no artigo “Saúde e Relações de Gênero: uma reflexão sobre os desafios para a implantação de políticas públicas de atenção a saúde da mulher indígena”, temos que:

As mulheres indígenas compõem uma parte dessa população culturalmente diferenciada que demanda a criação de uma política de saúde adequada aos múltiplos contextos étnicos dos quais elas fazem parte. A diversidade étnica e sociocultural dos povos indígenas contribui para que esse segmento populacional seja extremamente heterogêneo. No Brasil a população indígena perfaz um total de 817.000 pessoas (IBGE, 2010) organizadas em aproximadamente 270 povos, falantes de 180 línguas.

Uma pesquisa realizada pela Fiocruz revelou que cerca de 50% das mulheres indígenas sofrem de anemia grave; 15,7% das mulheres indígenas do país são obesas e 30,2% delas apresentam sobrepeso. Segundo o pesquisador Carlos Coimbra, que participou da pesquisa:

O índio no Brasil sofre com uma grande carga de doenças, com a dificuldade de acesso e a baixa qualidade da atenção médica recebida, pois, mesmo nas periferias mais pobres das cidades brasileiras, índices como esses não são encontrados entre a população não índia.

E quais são as causas para essa dificuldade de acesso apontado por Coimbra? Segundo Cristiane Lasmar no artigo “Mulheres Indígenas: Representações”, a invisibilidade sofrida pelas mulheres indígenas é reflexo da própria invisibilidade dos povos indígenas, que ainda são vistos de maneira idealizada e pouco realística.

Empoderar as mulheres indígenas é um passo importante para dar visibilidade às suas questões. Diversos movimentos de mulheres indígenas estão atuando para garantir os direitos dessas mulheres, tirando-as do anonimato para que tod@s possam vê-las e ouvir: Somos mulheres indígenas e queremos nossos direitos!