Movimento de luta por creche pública na UNIFESP

O Movimento de luta por creche da Unifesp elaborou uma carta pública convidando estudantes, funcionários e professores assim como os movimentos sociais e coletivos feministas pela dissolução da comissão de sindicância e para que não se inicie o trabalho de investigação contra as mães do movimento.

Nós, Blogueiras Feministas, já publicamos o depoimento de Agnes Verm, estudante-mãe-trabalhadora da Unifesp, que relata o que ocorreu em fevereiro desse ano. Seguimos com todo apoio ao movimento. 

Alunos do CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga participam do 'círculo do amor', uma acolhida 'zen' antes do café da manhã. A creche fica no Jardim Peri, zona norte de São Paulo, e atende 111 crianças de zero a 3 anos. Foto de Leonardo Soares/UOL.
Alunos do CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga participam do ‘círculo do amor’, uma acolhida ‘zen’ antes do café da manhã. A creche fica no Jardim Peri, zona norte de São Paulo, e atende 111 crianças de zero a 3 anos. Foto de Leonardo Soares/UOL.

Segue a Carta:

A criminalização da luta estudantil: pela permanência das mães estudantes e trabalhadoras na Universidade!

No dia 25 de junho de 2014, foram intimados quatro estudantes do Movimento pela Creche da Unifesp, dentro da instância da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da Unifesp, sob a acusação de “difamarem” o diretor acadêmico da EFLCH após o ocorrido na Congregação (instância máxima de deliberação do campus Guarulhos) no dia 06 de fevereiro deste ano. A acusação foi gerada pelo fato de quatro crianças, filhas de ativistas do movimento de creche e de uma representante discente na Congregação, estarem presente na reunião. As mães foram acusadas verbalmente de irresponsabilidade e classificaram a atitude delas como “imoral” (nas palavras de uma das docentes), e os membros da Congregação votaram, na proporção vigente de 70% de docentes, pelo fim daquela reunião caso as crianças permanecessem naquele espaço “inapropriado” (uma sala de aula).

As crianças estavam ali porque participariam, após a reunião, de uma apresentação de teatro infantil em uma disciplina de graduação. Mas, além disso, elas também estavam ali porque suas mães e cuidadores queriam participar da reunião e tomar parte das decisões desse conselho. Com essa decisão da Congregação, colocaram duas opções a mãe-estudante-trabalhadora e representante dos estudantes naquele conselho: permanecer sem sua filha ou sair do espaço público e político com ela, ou seja, o próprio conselho decidiu por indiretamente expulsar essa mãe com sua filha. Ainda em conversa de corredor, o diretor do campus fez uma comparação dessa atitude dos discentes em levarem seus filhos naquele espaço como o mesmo que um pai que leva o filho a um “puteiro”, e complementou que estava “exagerando o exemplo”.

A acusação feita de difamação pelo diretor acadêmico da EFLCH tem, como supostas provas materiais, sete páginas de postagens e comentários na rede social, sobre o ocorrido, onde os acusados se posicionam contra atitude do diretor acadêmico e pela luta por creche, pois entendem que a garantia do direito à educação está diretamente relacionado com o direito e a autonomia das mulheres que são mães e estudantes, bem como do seu acesso e permanência no ensino superior. Com isso, o movimento torna público um problema social, qualificando a ação do diretor acadêmico como machista uma vez que a política do “se vira” recai prejuízos às mulheres-mães. Os e as estudantes são criminalizados por colocarem na ordem do dia a pauta da permanência estudantil das mães-trabalhadoras-estudantes!

Há muitos anos as mulheres no Brasil e no mundo lutam por creches, como direito das crianças e das mães. No entanto, para as mulheres trabalhadoras e estudantes esta política pública é condição para a sua inserção no espaço público. Este problema que parece invisível à sociedade, coloca sempre sobre os ombros da mulher a responsabilidade de cumprir com o cuidado e a educação das crianças, e culpa a mulher por todas as consequências que o descaso, e mesmo a ausência, de políticas para creches públicas, trazem a elas.

O Movimento pela Creche da Unifesp busca, desde 2012, tornar pública essa demanda na política geral das universidades no Brasil. Cabe a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis viabilizar esta demanda, afastar o praticado machismo institucional e não criminalizar, pois isso cria bloqueios ao pleno exercício político destas mães.

Por de trás desta tática supostamente “pedagógica” de pontuar a universidade como um espaço que não é apropriado para as crianças, está o não atendimento da demanda de estudantes e a exclusão dos setores mais dependentes da política de assistência estudantil.

Hoje o nosso quadro é de alto índice de evasão e são as mães as primeiras a serem expulsas da universidade. Inclusive, após o ocorrido, uma das mães do movimento trancou seu curso por não conseguir mais levar sua criança para aquele espaço.

É um absurdo esta acusação incoerente, trata-se de uma tática antiga, usada pelos setores burocráticos e direitistas, que para abafar o real debate político, persegue e criminaliza os membros do movimento.

Nesse sentido queremos reiterar que LUTAR NÃO É CRIME!!!

Não nos calarão! Lutar é um direito de tod@s! Sobretudo das jovens mães estudantes trabalhadoras.

Neste contexto convidamos estudantes, professores e funcionários, que como nós defendem o direito de lutar, assim como os movimentos sociais, a assinarem esta carta como forma de se posicionar em relação ao descabimento das acusações empreendidas contra os estudantes denunciados. Que além de enviar resposta à denúncia feita pelo diretor acadêmico Prof. Dr. Daniel Vazquez e de defender às/aos estudantes militantes do Movimento de Luta por Creche na Unifesp, requer-se que a Comissão de Sindicância seja dissolvida, para que não se inicie o trabalho de investigação.

Pra permanência ser de verdade, tem que ter creche na universidade!
Pra trabalhar e estudar, por creche eu vou lutar!
Chega da política do “se vira”!
É machismo sim!