O Movimento de luta por creche da Unifesp elaborou uma carta pública convidando estudantes, funcionários e professores assim como os movimentos sociais e coletivos feministas pela dissolução da comissão de sindicância e para que não se inicie o trabalho de investigação contra as mães do movimento.
Nós, Blogueiras Feministas, já publicamos o depoimento de Agnes Verm, estudante-mãe-trabalhadora da Unifesp, que relata o que ocorreu em fevereiro desse ano. Seguimos com todo apoio ao movimento.

Segue a Carta:
A criminalização da luta estudantil: pela permanência das mães estudantes e trabalhadoras na Universidade!
No dia 25 de junho de 2014, foram intimados quatro estudantes do Movimento pela Creche da Unifesp, dentro da instância da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da Unifesp, sob a acusação de “difamarem” o diretor acadêmico da EFLCH após o ocorrido na Congregação (instância máxima de deliberação do campus Guarulhos) no dia 06 de fevereiro deste ano. A acusação foi gerada pelo fato de quatro crianças, filhas de ativistas do movimento de creche e de uma representante discente na Congregação, estarem presente na reunião. As mães foram acusadas verbalmente de irresponsabilidade e classificaram a atitude delas como “imoral” (nas palavras de uma das docentes), e os membros da Congregação votaram, na proporção vigente de 70% de docentes, pelo fim daquela reunião caso as crianças permanecessem naquele espaço “inapropriado” (uma sala de aula).
As crianças estavam ali porque participariam, após a reunião, de uma apresentação de teatro infantil em uma disciplina de graduação. Mas, além disso, elas também estavam ali porque suas mães e cuidadores queriam participar da reunião e tomar parte das decisões desse conselho. Com essa decisão da Congregação, colocaram duas opções a mãe-estudante-trabalhadora e representante dos estudantes naquele conselho: permanecer sem sua filha ou sair do espaço público e político com ela, ou seja, o próprio conselho decidiu por indiretamente expulsar essa mãe com sua filha. Ainda em conversa de corredor, o diretor do campus fez uma comparação dessa atitude dos discentes em levarem seus filhos naquele espaço como o mesmo que um pai que leva o filho a um “puteiro”, e complementou que estava “exagerando o exemplo”.
A acusação feita de difamação pelo diretor acadêmico da EFLCH tem, como supostas provas materiais, sete páginas de postagens e comentários na rede social, sobre o ocorrido, onde os acusados se posicionam contra atitude do diretor acadêmico e pela luta por creche, pois entendem que a garantia do direito à educação está diretamente relacionado com o direito e a autonomia das mulheres que são mães e estudantes, bem como do seu acesso e permanência no ensino superior. Com isso, o movimento torna público um problema social, qualificando a ação do diretor acadêmico como machista uma vez que a política do “se vira” recai prejuízos às mulheres-mães. Os e as estudantes são criminalizados por colocarem na ordem do dia a pauta da permanência estudantil das mães-trabalhadoras-estudantes!
Há muitos anos as mulheres no Brasil e no mundo lutam por creches, como direito das crianças e das mães. No entanto, para as mulheres trabalhadoras e estudantes esta política pública é condição para a sua inserção no espaço público. Este problema que parece invisível à sociedade, coloca sempre sobre os ombros da mulher a responsabilidade de cumprir com o cuidado e a educação das crianças, e culpa a mulher por todas as consequências que o descaso, e mesmo a ausência, de políticas para creches públicas, trazem a elas.
O Movimento pela Creche da Unifesp busca, desde 2012, tornar pública essa demanda na política geral das universidades no Brasil. Cabe a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis viabilizar esta demanda, afastar o praticado machismo institucional e não criminalizar, pois isso cria bloqueios ao pleno exercício político destas mães.
Por de trás desta tática supostamente “pedagógica” de pontuar a universidade como um espaço que não é apropriado para as crianças, está o não atendimento da demanda de estudantes e a exclusão dos setores mais dependentes da política de assistência estudantil.
Hoje o nosso quadro é de alto índice de evasão e são as mães as primeiras a serem expulsas da universidade. Inclusive, após o ocorrido, uma das mães do movimento trancou seu curso por não conseguir mais levar sua criança para aquele espaço.
É um absurdo esta acusação incoerente, trata-se de uma tática antiga, usada pelos setores burocráticos e direitistas, que para abafar o real debate político, persegue e criminaliza os membros do movimento.
Nesse sentido queremos reiterar que LUTAR NÃO É CRIME!!!
Não nos calarão! Lutar é um direito de tod@s! Sobretudo das jovens mães estudantes trabalhadoras.
Neste contexto convidamos estudantes, professores e funcionários, que como nós defendem o direito de lutar, assim como os movimentos sociais, a assinarem esta carta como forma de se posicionar em relação ao descabimento das acusações empreendidas contra os estudantes denunciados. Que além de enviar resposta à denúncia feita pelo diretor acadêmico Prof. Dr. Daniel Vazquez e de defender às/aos estudantes militantes do Movimento de Luta por Creche na Unifesp, requer-se que a Comissão de Sindicância seja dissolvida, para que não se inicie o trabalho de investigação.
Pra permanência ser de verdade, tem que ter creche na universidade!
Pra trabalhar e estudar, por creche eu vou lutar!
Chega da política do “se vira”!
É machismo sim!