As imagens sexuais das mulheres trans

Texto de Beatriz Guimarães.

Acho que muitos de vocês já viram essa foto.

Se trata de uma edição, na melhor veia transfóbica do “é uma cilada”; a foto original, tudo indica, é de uma mulher cis. E isso se repete, sempre. Qualquer representação minimamente sensual de mulheres trans em que é claro que se trata de uma mulher trans é, via de regra, criada com motivos transfóbicos e, na maioria das vezes, se tratam de edições sobre fotos de mulheres cis. Pois mulheres trans sensualizadas é, aparentemente, engraçado.

Existem outras categoria de imagens que são, aparentemente, hilárias. Uma é a mulher, de costas, usando um mictório. Já vi várias variações desse tema, invariavelmente fotos bem produzidas, de mulheres dentro dos padrões, e que sugerem muito mais do que mostram, no melhor estilo de pornografia cult de tumblr. Mas se trata de uma mulher trans, e a sensualidade vem da explicitação de se tratar de uma mulher trans. Se torna, então, muito engraçado e nada sensual, nada bonito. Conto de cautela para os homens.

Outra categoria bem presente nesse estilo é a da mulher trans de pernas cruzadas, em que a genital é mostrada ou sugerida. Se fosse uma mulher cis, seria uma das cenas mais sexy do cinema mundial. Mas é uma mulher trans, portanto, hilário.

Sensualidade e atratividade é proibida a mulheres trans. Ser uma mulher atraente e explicitar a não-cisgeneridade não pode ser sexy.

Quando se representa mulheres trans de forma sexual, é sempre de formas em que a palavra “sensual” não se aplica. É só ir a qualquer site pornô e buscar por mulheres trans. Tranny porn. Não existe sutileza, não existe espaço para um corpo real, para erotismo. Existe um buraco, um buraco onde um pênis entra. A mulher ali é apenas um enfeite, sua transexualidade um detalhe exótico equiparável ao cenário.

Não tenho nenhuma conclusão grande a fazer sobre isso. Apenas uma dúvida: por que essa foto não é bonita? Por que isso não é sensual?

Autora

Beatriz Guimarães é feminista trans, apaixonada por gatos, escreve esporadicamente em feminismotrans.wordpress.com.