O Machista Nutella

Texto de Samaara Souza para as Blogueiras Feministas.

Muito se tem falado sobre FEMINISMO ultimamente, mas, principalmente contra ele, o chamado antifeminismo. Existem páginas, canais no Youtube e blogs empenhados em plantar a ideia de que a mulher não precisa mais do feminismo, que as feministas são “bruxas” que vieram para destruir os valores da sociedade e que já se vive em situação de igualdade, etc. E, eu fico me perguntando: Como ousam os homens da atualidade se posicionarem contra o feminismo?

Esses homens que se posicionam contra os movimentos feministas são, na maioria das vezes, os mesmo que ganharam muito com ele. Que também foram libertados de uma série de hábitos patriarcais nocivos, que oprimiam seus sentimentos e sensibilidade. Os homens da atualidade não são obrigados a conhecer ferramentas, consertar coisas ou a se dedicar a trabalhos braçais, assim como seus avós eram obrigados a fazer por “serem homens”. Também não são obrigados a perder sua virgindade com prostitutas ou animais só para provar sua “masculinidade”. Podem se preocupar com seus corpos, colocar brincos e piercings sem temer terem sua masculinidade questionada… Podem até se manter infantis até os trinta anos de idade, já que não são mais obrigados a ser o único provedor da família. Tudo isso porque as ideias feministas libertaram não somente as mulheres, mas também os homens de um machismo tóxico, que submetia as mulheres e sobrecarregava os ombros masculinos de responsabilidades super-humanas. O feminismo deu espaço para o surgimento de novas mulheres, mas também de novos homens.

O machista da sociedade contemporânea ou, como denominarei aqui, “Machista Nutella” mantém página antifeminista na internet, faz post dizendo que mulher de verdade tem que saber cozinhar e limpar casa, “senão ele não pega!”. É também o mesmo cara que contrata os serviços de “Marido de aluguel” para trocar o chuveiro queimado de sua casa, pois não sabe fazer isso. Ora, meu querido machistóide, o machismo é um sistema com regras rígidas para mulheres e homens, no qual cada gênero executa um papel definido e limitado. Se o das mulheres é o de cuidar do lar, oferecer acalanto e se manter bela. O seu é de carpir o mato, consertar as coisas quebradas, pagar as contas e deixar os pelos do nariz crescerem… Cada um cumprindo seu papelzinho predeterminado na Idade Média, nada de machismo seletivo… Nada de dividir despesas com a companheira, “machos de verdade” conseguem pagar sozinho as contas do seu lar.

O “Machista Nutella” é machista apenas quando lhes convém. Suas mulheres são trabalhadoras e dividem as despesas da casa, pagam metade do financiamento do carro, pagam a escola das crianças… Nestes casos, o “Machista Nutella” não se opõe acusando as mulheres de estarem indo longe demais, de estarem agindo “como homens”. Quando lhes convém não incomoda o fato de as mulheres quebrarem paradigmas e assumirem compromissos que antes eram de responsabilidade dos homens, “do homem da casa”. O “Machista Nutella” não se deu conta, ainda, de que a sua vida está muito mais confortável e agradável graças aos movimentos feministas que, ao questionarem e lutarem contra a cultura patriarcal, construíram para ambos uma sociedade mais flexível, na qual os indivíduos podem ser e existir com maior leveza e liberdade.

O “Machista Nutella” é aquele adolescente criado pela mãe solteira, mas que na escola desconfia da capacidade de suas colegas. É aquele que usa o carro da namorada, enquanto diz “que mulher não entende de carros”. Tem trinta anos e mora com a mãe ainda, e, provavelmente, seu pratinho está feito e guardado no micro-ondas, aguardando-o terminar de fazer as postagens em sua página antifeminista.

Autora

Samaara Souza é cientista Social e educadora. MembrA do coletivo Feminista “Xavaska”. Escreve no blog: Feminista-recém-casada. Esse texto contou com o apoio de Margarete Alvino.

Créditos da imagem: Cena do quadro “Susana e os Anciãos” (1610) da pintora italiana Artemisia Gentileschi.

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