Texto de Carol Fontes.
Esse foi o primeiro oito de março que não recebi flores ou parabéns. Ano passado travei lutas o dia inteiro tentando esclarecer meus amigos de que flores não significam salários dignos, licença-maternidade de seis meses ou acaba com a violência. Apenas simbolizam nossa fragilidade, docilidade e submissão exigidas, nos lembra que um tapa dói, e muito, e pode nos despetalar.
Algumas empresas estão começando a mudar (ou pelo menos a tentar) sua linguagem com as mulheres, caso da Bombril que este ano resolveu inovar na homenagem e produziu uma campanha publicitária intitulada “AME – Associação das Mulheres Evoluídas” com Marisa Orth, Dani Calabresa e Mônica Iozzi como garotas-propaganda.
A agência produziu seis comerciais com os mais variados (e preconceituosos) temas, o primeiro (com o título de “Adestramento”) é feito por Marisa Orth e nos ensina que devemos tratar os homens como animais dentro do esquema “Dr. Pet” de recompensas, se ele lava o banheiro merece carinhos, se ficar babando no sofá merece “jornalada na cara” (e depois comece a rezar para ele não revidar!). Em “Dona Marisa” ouvimos os conselhos de Mônica Iozzi para a ex-primeira-dama mostrar que mulher evoluída é aquela que manda em casa e coloca o escravo marido desempregado para limpar a casa, não me venham com a história de dividir tarefas! Ou você faz tudo ou não faz nada…
Com o “Homem das Cavernas” aprendemos que esse pode ser um tema muito bom, como usado na campanha nacional do Equador contra o machismo, ou muito ruim, usando a coitada da Dani Calabresa pra dizer que “homem é bom, mas é tosco”, verdadeira pérola! O quarto nem deveria se chamar “Inveja” e sim “Preconceito”, a humorista ensina como um homem deve segurar os produtos da Bombril, com violência e ignorância porque é o “jeitinho” deles, e como não deve se vestir, brinquinho? Depilação? Isso é palhaçada né? Você mesmo sendo menos evoluído pode usar os produtos de limpeza e pode até nos alcançar. Obrigada, Bombril, finalmente teremos homens à nossa altura!
Quer falar com os homens? Use linguagem de macho! Tem que falar grosso, gesticular muito, ser violenta, deixa que a Dani Calabresa e “Tropa de Elite” te ensinam. Preste atenção como o gestual dela muda assim que tira a boina, voz delicada, poucos movimentos e intenso bater de cílios, quase uma personagem de José de Alencar. E depois temos Marisa Orth de volta para revelar que eles tem apenas cinco utilidades, coitados, é muito triste ver que para levantar a autoestima das mulheres precisamos acabar com a masculina, isso tem nome: sexismo!
Chamou-me atenção o estereótipo dos homens em comerciais de produtos de limpeza, dá para resumir em uma palavra: burrice. E nós acabamos reproduzindo isso quando falamos “deixa que eu faço porque você não sabe mesmo” ou “qual mulher vai dividir a louça comigo?”. Porém, o incentivo precisa ser dado desde cedo ou ele vai crescer achando que varrer uma casa, lavar um banheiro é coisa de mulher ou “bichinha”. Até nosso vocabulário está errado, um homem não deve nos ajudar a limpar a casa, devemos dividir tarefas.