Texto de Maia Cat.
Essa não é uma idéia nova, nem mesmo nesse blog, mas sinto que é preciso retomá-la constantemente. Há o senso comum de que o feminismo é uma luta só das mulheres e só para as mulheres. E, principalmente, que é a luta já ganha por direitos e mercado de trabalho. Que hoje em dia se resume nas campanhas contra a violência doméstica (que aliás, não é doméstica, é uma violência social contra a mulher, refletida no ambiente doméstico).
Assim, o feminismo é visto como uma luta específica, que não afeta positivamente a vida dos homens ou das mulheres, que consideram que o feminismo é ultrapassado.
Mas ele é uma luta humana. Prevê direitos iguais para homens e mulheres, mas, acima de tudo, liberdade. O feminismo abarca, em si, várias lutas: a d@s gays, bis, dos direitos humanos em geral, d@s negr@s, das mulheres e dos homens. Porque o que nós queremos é que uma mulher possa trabalhar em qualquer área, sim, mas o mesmo vale para os homens. Que um homem possa ser qualquer coisa, sem sofrer preconceitos, que se ele quiser tricotar, que tricote. Se a mulher quiser dirigir um trator, que dirija. Que ninguém seja mais ou menos por isso.
O que o feminismo quer não é que um sexo vença o outro. O objetivo é que o gênero não seja uma prisão, que ninguém seja limitado a nada só porque a sociedade enxerga determinadas coisas como femininas ou masculinas. Que futebol, novela, filmes, livros, músicas sejam humanos, não masculinos ou femininos.
Que uma mulher possa ser enxergada como uma pessoa completa e sujeito e não como um corpo-objeto e passivo. Que as relações sexuais sejam muito mais libertadoras, fora das amarras heteronormativas e das fantasias industrializadas que pregam a submissão e humilhação da mulher perante o poder masculino. Que as relações de amizade entre homens e mulheres possam ser plenas, sem hierarquias previamente determinadas, que a mulher possa ser ela mesma e o homem possa ser ele mesmo, que os dois possam falar a mesma língua.
O feminismo quer que uma mulher possa ser muito mais do que mãe de alguém, do que esposa ou filha de alguém. Que o homem não seja o único responsável da família. Que o homem possa ficar em casa cuidando dos filhos, se o casal assim o preferir. Que ambos os pais sejam responsabilizados pelo que acontece com os filhos. Que a mulher tenha um tratamento digno nas delegacias e não sofra assédio ou abuso sexual constante nas ruas.
Que gays não sejam discriminad@s (nem que ser “mulherzinha” seja um xingamento), que negr@s possam ter automaticamente o respeito que @s branc@s já têm garantidos para si, que as mulheres possam ter automaticamente o respeito que os homens já têm garantidos para si.
É por isso, e por muito, muito mais, que o feminismo tem a ver com você. Tem a ver com a sua liberdade e com a liberdade das pessoas que te rodeiam. O machismo, para usar uma comparação tosca, é o grande bullying da humanidade: azucrina, maltrata, violenta, tira sarro, reprime, qualquer um que seja “diferente” de suas normas. E é por isso que essa luta não é só nossa. É sua também.