Infância perdida: concursos de beleza infantil

Texto de Claudia Gavenas.

Maquiagem carregada, vestidos brilhantes, laquê nos cabelos, pele bronzeadíssima e depilada, cílios postiços. Tudo isso acompanhado da pressão em ser a grande escolhida. Ser a mais bela e talentosa. Estes são os concursos de beleza infantil — uma verdadeira febre nos EUA — e que têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil, como você pode ver nesse vídeo do Miss Brasil Infantil 2010.

Decidi fazer este post após assistir um capítulo do seriado ‘Pequenas Misses’, exibido pelo canal pago Discovery Home & Health, (veja parte de um episódio: Pequenas Misses – Miss Georgia parte 1).  Neste programa, a cada dia é mostrado o cotidiano de uma candidata estadunidense, sua preparação para o concurso e seus “truques de beleza”. As crianças retratadas neste seriado têm idades entre 2 (!) e 10 anos. Mas quais seriam as consequências desse tipo de exposição na vida de meninas tão pequenas?

De acordo com o seriado, fomentados pelo desejo de que suas filhas alcancem o “tão sonhado” título, pais e mães investem verdadeiras fortunas na preparação delas. E, ainda afirmam com veemência, que tudo é feito porque é a vontade da criança, tentando atribuir uma conotação lúdica e de divertimento para justificar a participação.

Muito provavelmente, esses pais nunca se perguntaram se tal atitude não seria, na verdade, a projeção de algum anseio ou expectativa não concretizada da parte deles feita diretamente na criança. Tampouco, sobre o mal que poderiam causar às suas filhas a longo prazo, pois estudos apontam que a maioria das crianças que participa de concursos de beleza pode vir a ter problemas de aceitação e de auto-imagem. Será que estas crianças realmente têm escolha?

Há também a questão da erotização precoce dessas meninas. Nas competições de beleza infantil, o que se vê são garotinhas utilizando trajes de banho e desfilando como se fossem mulheres adultas, sem apresentar qualquer traço da idade que realmente têm. O artigo “Meet the pre-teen beauty addicts” do Daily Mail ilustra tal afirmação, pois contém trechos de conversas em uma comunidade de pedófilos que cita uma candidata do Reino Unido de apenas 11 anos e seus “atributos”.

Mas o que o Feminismo tem a ver com isso? Tudo!  Se nós queremos combater o sexismo e a construção de estereótipos baseados em interesses do patriarcado e desse capitalismo selvagem ao qual estamos sucumbindo, devemos começar justamente pela reflexão a respeito desse tema com relação às crianças.

É muito difícil coibir práticas como as descritas acima, que vêm ganhando cada vez mais destaque em terras tupiniquins. Mas se cada um@ de nós manifestar a sua indignação e promover a conscientização, quem sabe não podemos evitar que tantas infâncias se percam pela junção da irresponsabilidade e insegurança dos pais e a tirania soberana da indústria da imagem travestida de sonho e de glamour?