Texto de Lilian Félix.
Não sei se você, como mulher, já passou pela situação de tomar pílula anticoncepcional. Acho que isso se deu na vida da maioria das mulheres. Pelo menos no meu círculo de amizades todas mulheres que conheci fizeram uso da pílula anticoncepcional em alguma fase de suas vidas, tanto como método contraceptivo quanto como uma forma de tratamento de alguma disfunção hormonal.
Atualmente, apesar dos métodos contraceptivos serem populares e de fácil acesso para a maioria da população, o panorama nem sempre foi assim. A Igreja Católica foi uma ferrenha opositora desses métodos, visto que a contracepção choca-se diretamente com a admoestação bíblica do livro Gênesis, da humanidade se fecundar e encher a Terra. Durante muitos séculos, a única forma de evitar filhos vista por muitos era a abstinência sexual.
Uma mulher que se destacou na luta pelo direito das mulheres decidirem quando e quantos filhos ter, apesar de suas idéias racistas e eugenistas, foi Margaret Higgins Sanger (1833 – 1966). Em 1914, fundou nos Estados Unidos a National Birth Control League, concentrando suas atividades em produzir diafragmas, dando autonomia às mulheres para se prevenir de uma gravidez, algo que era facultado apenas aos homens.Claro que a iniciativa de Margaret não foi recebida com confetes pela sociedade da época, mas sua persistência deu a nós a invenção da pílula em 1960.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança de da Mulher de 2006, a pílula anticoncepcional é utilizada por 27% das brasileiras. O interessante dessa pesquisa é que a esterilização aparece como a segunda forma de contracepção, adotada por 26% das brasileiras. Porém, quando olhamos para a utilização de métodos contraceptivos masculinos, como o uso da camisinha e a vasectomia, a adoção é extremamente baixa, com apenas 5% dos parceiros das mulheres brasileiras vasectomizados.
É inegável que os métodos contraceptivos tenham dado uma liberdade grandiosa à mulher contemporânea, mas muitos passos ainda tem que ser dados. O cuidado na contracepção ainda é majoritariamente da mulher, que sofre os efeitos colateriais de tomar hormônios das pílulas, como aumento de peso, variações no humor entre tantos outros incômodos.
Pesquisas recentes vem trabalhando numa pílula anticoncepcional para os homens, que inibiria a produção de espermatozóides, mas parece que muitos não a têm visto com bons olhos. Por que? Perguntados sobre se usariam ou não uma pílula anticoncepcional masculina, em reportagem do site Terra, os entrevistados demonstraram receio de utilizar o contraceptivo devido aos efeitos colaterais, preferindo que o uso seja feito pelas suas parceiras. Essas opiniões apenas corroboram algo que já é um consenso entre pesquisadores: a responsabilidade da anticoncepção fica majoritariamente a cargo das mulheres, com a escolha do método sendo feito por elas.
Mas por que essa resistência à participação masculina na anticoncepção? Segundo o estudo: Participação Masculina na Contracepção pela ótica feminina feito por Marta Carvalho, Kátia Pirotta e Néia Schor doutorandas do Departamento de Saúde Materno- Infantil da USP, a associação da virilidade à fertilidade e uma possível perda dessa fertilidade pela utilização de métodos contraceptivos é considerada a causa fundamental dessa resistência. Triste ver que este conceito de perda de virilidade faz com que não sejam desenvolvidos contraceptivos e ações de planejamento familiar voltados para o público masculino, pois é senso comum que o controle de natalidade é de responsabilidade da mulher. E isto repercute na qualidade de vida das mulheres, pois são estas que acabam tendo que lidar com gravidezes indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis.
A participação masculina na responsabilidade da contracepção precisa ser ampliada, passando de mero apoiador para uma atitude muito mais engajada. A quebra de tabus nessa área se faz mais do que necessária e tende a beneficiar todos, tanto homens quanto mulheres.