O que queremos no #IIBlogProg?

Texto coletivo das Blogueiras Feministas.

Amanhã começará o II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Ainda não sabemos exatamente como definir quem são os blogueiros progressistas. Muitas de nós fazem careta ao pensar em se identificar como progressistas. Porém, é um evento de articulação política, que conta com a participação de vários blogueiros de esquerda, movimentos sociais e pessoas questionadoras do status quo. Por isso, o coletivo Blogueiras Feministas marcará presença não só no evento, mas também na mesa auto-gestionada Mulheres na Blogosfera, que vai rolar sábado (18/06) à partir das 14h. Confira a programação oficial do evento.

Em nossas discussões e articulações quanto a participação do coletivo no encontro, decidimos fazer posts sobre o assunto e elaborar nossa visão feminista sobre a democratização da comunicação. A Carine Roos publicou na terça o post Desafios da Comunicação na Atualidade. E a Amanda publicou ontem o post Por um marco regulatório que dê voz às feministas! Mas o que queremos? E para que estamos indo ao II BlogProg?

As Blogueiras Feministas Cynthia Semiramis e Clarice M. Scott no Encontro dos Blogueiros Progressistas de Minas Gerais. Foto de Michael Vieira Rosa no Flickr.

Queremos Marcar Presença

É preciso estar para reivindicar. Não basta ser feminista, é preciso ocupar espaços, mesmo que os movimentos sociais mostrem muitas vezes o machismo diário. Pois, como disse a Mary W:

Todo mundo tem problema. E os movimentos sociais também tem. Porque é da vida e tal e coisa. Cada movimento social, imagino, tem seus problemas singulares. O movimento feminista tem um monte. Mas um deles é histórico. Então vou mencionar. Tipo o movimento feminista teve muita dificuldade de se legitimar dentro dos partidos e agremiações de esquerda. Porque o pensamento por lá era assim. Uma vez que nos livrarmos da opressão econômica, nos livraremos das demais opressões. E a libertação das mulheres seria, então, automática. Post do dia 28/09/2010.

Tem algumas coisas que a gente aprende que são raras. Uma amiga me ensinou uma dessas coisas raras. Numa conversa sobre Parada Gay. Foi dito, na ocasião, que os participantes da Parada não nos representavam. Que eram folclóricos e espalhafatosos demais. E essa amiga me disse que pra eu me sentir representada, eu deveria ir. Porque aí teria, né? Uma lésbica como eu por lá. Uma aprendizagem rara essa porque me fez perceber o mundo melhor. E eu no mundo etc. Post do dia 10/08/2010.

Sabemos que essa libertação não é automática. Nem para mulheres, nem para os LGBT’s, nem para os negr@s e outras minorias. Porém, se você não se sente representada dentro de um movimento ou de um grupo é preciso que você vá lá se representar. E é isso que nós vamos fazer. Estaremos lá mostrando a cara de algumas feministas. Buscando representar a diversidade que há dentro do movimento. Iremos marcar presença para contribuir, agregar e mostrar que temos causas em comum.

Queremos Diversidade

Queremos um encontro sobre democratização da comunicação que não pense apenas nos meios, mas também no conteúdo, na representação da mulher na mídia, em pautar a questão de gênero. É importante ter discussões específicas das mulheres na mídia e do uso das novas tecnologias por nós, mas queremos ir além. Queremos representatividade de diversas minorias, mesas sobre o ativismo negro e LGBT nas redes sociais, os movimentos agrários, meio ambiente, inclusão social, indígenas, etc. Queremos diversas vozes num mesmo espaço. Nessa perspectiva, propomos que as falas das minorias não sejam rotuladas, mas que tenham espaço para serem ouvidas e consideradas de modo a construirmos uma rede realmente alternativa ao que está colocado pela mídia tradicional.

A representação de gênero, raça e sexualidade na mídia é praticamente um combo do preconceito que precisa aparecer nas mesas principais. Quando se fala de mídia é essencial falar sobre o combate ao racismo, machismo e a homofobia. Eventos de blogueiros devem levar em consideração a diversidade, seja ela de gênero, de raça, de orientação sexual ou cunho político-partidário. E que essa diversidade deve estar presente nas pessoas que compõem mesas, nos temas e nos discursos.

Queremos Trocar Experiências

O Coletivo Blogueiras Feministas começou em outubro de 2010 e vem ampliando suas atividades. Saímos muitas vezes do virtual e participamos ativamente de movimentos como a Marcha das Vadias. Além disso, somos um grupo extremamente democrático, onde decisões são tomadas horizontalmente, com atividades e custos divididos entre as participantes. Qualquer pessoa pode entrar no grupo de emails. E a partir do momento que estiver dentro, pode escrever no blog. Por isso o nome do coletivo é Blogueiras Feministas, porque qualquer pessoa do grupo é uma potencial blogueira.

Os blogs cumprem um papel que só eles podem cumprir, e que não deve ser subestimado e nem jogado nas costas de outra instituição/entidade. Os blogs se constituem em mais uma frente de poder, mais um canal de articulação, uma trincheira a ser ocupada. A blogosfera é a terra dos discursos sediciosos, seja para fazer oposição à grande mídia e estimular a liberdade de expressão, seja para trazer um discurso de direitos humanos mais específico que foge do senso comum e quebra preconceitos (direitos das mulheres, combate ao racismo, à homofobia e a todo tipo de discriminação). Iremos não só pra acompanhar as discussões, mas para nos conhecermos melhor, conhecermos outras feministas e para identificarmos outros pontos que podemos abordar no grupo mais tarde.

Queremos as Mulheres na Roda

Uma coisa é fato: a maioria dos homens não lê blogs escritos por mulheres. Esse é um dos motivos pelo qual há tanta ignorância sobre o feminismo e os movimentos de mulheres na internet. Já vimos alguns episódios em que a ignorância e arrogância de alguns “blogueiros progressistas” causou mal estar entre nós. Além do que, há pessoas que afirmam que não podemos tecer críticas à esquerda, sob o risco de sermos rotuladas de “a esquerda que a direita gosta”. Como estabelecer novos parâmetros para um movimento social sem crítica? Se nós mesmas criticamos alguns pontos do movimento feminista, por que temos que ser chapa branca em relação ao governo? Essa não é a diversidade que queremos. Sabemos que nossas ideias feministas não serão recebidas com flores e vinhos, porque… Não vão! Não dá para esperar educação porque a sociedade foi educada pra ser machista! E se a gente for se calar a cada patada que a gente recebe de fora, como é que fica?

O fato é que não vamos resolver nossa luta feminista num encontro de blogueir@s. Mas também não vamos deixar de estar apresentando nossa pauta. A nossa luta é em todos os espaços, todos os dias. Vamos ocupar o espaço das mesas auto-gestionárias. É preciso refletir sobre a grande maioria dos blog de mulheres, qual a relação disso com a sociedade, pois o mundo virtual não está dissociado do mundo real e, como isso se relaciona a representação das mulheres nas decisões sobre política de comunicação e afins. Mídia e Mulher, Mulheres construindo a mídia, a luta pela democratização da comunicação pelo viés do feminismo, são temas importantes que precisamos colocar. Sem medo de sermos feministas.

[+] Vídeo com a participação da Rachel Moreno no Encontro dos Blogueiros Progressistas de SP, falando sobre representatividade da mulher na mídia.

[+] Mulher na Mídia – Desvalorização e Subjulgamento por Rachel Moreno

[+] ‘É urgente que o poder sobre os meios de comunicação seja democratizado’, diz a jornalista Ana Veloso – Agência Patricia Galvão