Acabou a Copa do Mundo, mas você pode continuar acompanhando o Futebol Feminino

Domingo passado, dia 17, foi a final da Copa do Mundo de Futebol Feminino 2011 entre Estados Unidos e Japão. As americanas tinham toda tradição, preparo físico e estrutura, além de 2 títulos mundiais. As japonesas tinham o fator surpresa e uma seleção com uma ótima capitã, além de uma campanha em que eliminaram Suécia e Alemanha, duas potências do Futebol Feminino. Num jogo super emocionante, que terminou empatado em 2 a 2 na prorrogação, as japonesas puderam comemorar com muita alegria a conquista do título. Além de ter Sawa, a capitã do time, sendo escolhida melhor jogadora da competição.

No Brasil, o futebol é o esporte que reina. Como dizem por aí, o Brasil é o país do futebol. Mas essa máxima não vale para o Futebol Feminino e para muitos outros esportes que tem grande prestígio na modalidade masculina e pouquíssimo apoio nas modalidades femininas, como o MMA – Mixed Martial Arts, que a Mari Moscou já falou aqui no blog. As pioneiras e as atletas que seguem lutando para conquistar um lugar ao sol em esportes predominantemente masculinos acabam tornando-se verdadeiras heroínas. O que mais acontece no Brasil é ver meninas adolescentes desistindo de levar adiante uma carreira no futebol por preconceito, machismo e falta de apoio. Muita gente repete por aí que futebol não é coisa para mulher, porque não é um esporte feminino, as mulheres ficam masculinizadas, as pessoas não estão interessadas em ver. Qualquer modalidade feminina não precisa desse tipo de crítica, precisa é de investimento. Porque apenas com incentivos é possível formar novas atletas e angariar patrocinadores e torcedores, seja no futebol, no MMA ou qualquer outro esporte.

Seleção Brasileira Feminina de Futebol no Torneio Internacional Cidade de São Paulo em 2010. Imagem: Reuters.

Muitas pessoas reclamam que Marta, eleita 5 vezes a melhor jogadora do mundo, não tem um título mundial. Essas mesmas pessoas não olham em que condições sobrevive a seleção de futebol feminina brasileira. A CBF – Confederação Brasileira de Futebol dá todo apoio para categorias de base do futebol masculino, como as seleções sub-17 e sub-20. Porém, na Copa da Alemanha, nossas jogadoras não tinham nem mesmo cozinheiros. Uma seleção disputando um mundial sem uma estrutura básica de apoio. Nem fotógrafo a CBF enviou, porque não interessa nem mesmo ter registros oficiais da campanha brasileira. Não existe nem mesmo um departamento de Futebol Feminino na CBF. Muitas jogadoras da seleção, como Formiga, que já disputou quatro mundiais, estão sem clube, não tem onde treinar. E esse time já ganhou várias medalhas, inclusive chegou ao segundo lugar na Copa do Mundo de 2007. Elas fazem milagre, mas só talento não ganha de seleções com ligas fortes e com anos de investimento no futebol feminino.

Devemos cobrar muito da CBF e dos torcedores e torcedoras do futebol brasileiro maior apoio para as mulheres se desenvolverem. Se somos uma potência no futebol, por que esquecemos de nossas jogadoras? Por que não apoiamos e cobramos melhorias? Por que não fazemos festa quando começa a Copa do Mundo de Futebol Feminino? Já faz tempo que o estereótipo da “maria-chuteira” foi engolido por várias mulheres e meninas interessadas em praticar e torcer, a Lu já deu até depoimento dessa paixão aqui no blog. Esbanjamos conhecimento de regras e táticas. Estamos nas arquibancadas e nas mesas-redondas da tv. Mas cadê nosso espaço e prestígio em campo?

Você pode continuar acompanhando o futebol feminino e apoiando nossas jogadoras durante todo ano. Há ótimos blogs e sites feitos por mulheres:

No Laço da Chuteira, a Luciane de Castro comenta todas as partidas e destaca esquemas táticos, além de lutar muito pelo reconhecimento do futebol feminino brasileiro. Ela escreveu o dossiê “Gender Kicks 2011” que tem o artigo importantíssimo: O Universo da Mulher Futebolista Brasileira.

“O nível técnico e o bom futebol apresentado pelas jogadoras brasileiras, está muito mais ligado à natural desenvoltura em campo – predicado herdado de muitas gerações e misturas, que lhes conferem habilidades e gingas inconfundíveis, que a um real desenvolvimento da modalidade no país. Há muitas barreiras a serem suplantadas, muitas melhorias a serem implantadas e para isso, é necessário envolvimento dos responsáveis pela organização do jogo das meninas em solo nacional.

Apesar das regras e do conceito puramente masculino, o futebol das mulheres surgiu buscando certo grau de independência e identidade própria. Infelizmente, por conta da alienação a uma sociedade amplamente machista, onde mulheres rotulam mulheres que ousam, o ímpeto de jogar futebol tornou-se um problema, havendo uma relevante melhora no modo como o futebol feminino foi entendido a partir de 2007.

O público interessado na modalide ainda é restrito e pouco influente se comparado à massa (incluindo muitas mulheres) que vê real valor no futebol dos homens. Para a grande maioria, investimentos na modalidade são desperdício de tempo e dinheiro. A modalidade não é reconhecida como profissional, goza de bem pouco prestígio junto à população e meios de comunicação, além de ser avaliada como maçante, muito mais por falta da perspectiva bio e fisiológica feminina, que torna o jogo mais cadenciado e não necessariamente menos veloz.

A visão, quase uma vidência, da necessidade de mudança, se deu depois de anos em que a modalidade cambaleava entre a falta total de interesse e investimento. A situação mudou significativamente nos dois últimos anos, após iniciativa da ex-diretoria do Santos, clube tradicional do estado de São Paulo, ao trazer para a equipe, a então três vezes Melhor do Mundo FIFA, Marta Vieira da Silva. Tal fato mudou circunstancialmente a visibilidade do futebol feminino no país, fazendo com que alguns clubes, espalhados pelo Brasil, mudassem significativamente seu olhar e sua postura sobre a modalidade. Continue lendo…

Tem também o Futebol Feminino Profissional, sempre com notícias dos campeonatos.

E você também pode entrar em contato com algumas das jogadoras da seleção pelo twitter: Elaine Baiana @mouraelaine , Thaisinha @thaisduarte11 e Thaís Picarte @ThaisPicarte

[+] Carta Aberta a Marta Vieira da Silva

[+] O Futebol Feminino na Marca do Pênalti