Não pretendo falar pelas mulheres e nem poderia. Não pretendo falar pelas brasileiras e nem poderia. E nem mesmo poderia pretender falar por todas as feministas. Discordar é normal e mesmo dentro desse coletivo de mulheres, na maioria dos assuntos e nos assuntos mais polêmicos não há qualquer coisa perto de unanimidade. E se assim é, ótimo! Estamos mesmo exercendo o que, acredito, seja UM dos pilares do feminismo: o direito e a liberdade de escolha.
Não quero me lançar aqui na polêmica do #lingerieday (que já deu muito pano para manga e muito texto para debate) nem na nova polêmica da Sandy (que, by the way, gerou comentários tão desnecessários quanto absurdos. Ih, já entrei na polêmica). É provável que esse texto se relacione com os temas acima, mas a perspectiva que quero apresentar tem a pretensão de ser um pouco mais ampla.
Vamos pelo título e chegaremos logo lá.

Como disse, liberdade de escolha é, para mim, um dos pontos fundamentais no feminismo, além da óbvia defesa da igualdade entre homens e mulheres. Identifico no movimento (e identifico-me com o movimento) a briga diária por permitir que as mulheres tenham ampla liberdade em suas decisões: liberdade essa que deve ir desde a escolha de sua roupa até a decisão de abortar ou não, passando por todas aquelas angustiantes decisões sobre carreira, maternidade, casamento, e …
… Ah sim! Então o problema: defendemos a liberdade de escolha, marchamos por essa liberdade, mas achamos que a mulher que exibe seu corpo não é livre, mas uma vítima das imposições do patriarcado. Achamos que a mulher que escolhe ser mãe e dona de casa não é livre, mas vítima das imposições do patriarcado. E agora? Freiar, parar o carro e começar de novo. O título: trocando seis por meia dúzia. Simples: acredito que pensar assim é, guardadas as devidas proporções, continuar substituindo o julgamento da mulher por outro, não mais o do patriarcado, mas aquele meu, a minha crítica do patriarcado. Claro, nem toda mulher que exibe o corpo, concorda com a pornografia, abdica da carreira para ser mãe, dedica-se única e exclusivamente à família, assim decidiu livremente. É certo que, ainda hoje, essas opções são, muitas vezes, o reflexo da falta de opções do mundo machista. O que não me parece correto é pensar que toda mulher que assim decide o faz como consequência ou parte de um assujeitamento, de uma imposição externa.

Se acredito que as mulheres são livres para escolher, se marcho por essa escolha, não posso querer condicioná-la sem incorrer em uma imensa contradição. E, sim, eu insisto mais uma vez nisso nesse blog: é preciso coerência no discurso. Nossa sociedade patriarcal é, sim, responsável por ter, por séculos, substituído o julgamento e as escolhas femininas pelas suas. Mulher é melhor na cozinha, mulher é naturalmente melhor com crianças, mulher tem que ser mãe, mulher é mais sensível, mulher tem que ser bonita, mulher … e onde entra o que a mulher quer de si, mulher?
Entendo ser difícil conseguir separar essas opções do condicionamento histórico criado pelo patriarcalismo. Mas impossível não é: acreditar que uma mulher pode, aberta e livremente, optar por ser mãe, dona de casa, atriz pornô, prostituta, dançarina, advogada, médica, mecânica e oqueviernacabeça é empoderá-la, é acreditar em sua capacidade de pensar além das amarras do machismo e apenas por si mesma. E se essa escolha não me agrada… opa, essa é uma frase que nem mesmo caberia ser dita, afinal, se livre somos em escolher, a ninguém cabe qualificar essa escolha.