A escola que ficou este ano em primeiro lugar no ranking do Enem é uma escola só para meninos. Isso, vocês não leram errado não: só para meninos. Esta notícia (que não sei se ano passado foi trabalhada dessa forma, pois parece que a tal escola já ficou em primeiro lugar outras vezes) fez muita gente se surpreender que este tipo de escola “ainda” exista no Brasil. Dá um pouco a impressão de que o ensino separado por gênero é necessariamente conservador, né?
O Colégio São Bento do Rio de Janeiro não teve uma boa colocação no Enem por ser separado por gênero, como os beneditinos e a mídia de massa querem fazer crer (leia aqui). O Colégio São Bento teve uma boa colocação por ser um colégio de elite e por ser conteudista. Simples assim. Em termos de uma educação machista o fato de haver segregação de gênero, em si, não implica um ambiente mais ou menos conservador. Tudo depende da abordagem da escola.

O trabalho da pesquisadora Graziela Perosa, da EACH/USP, “Escola & Destinos Femininos”, aponta justamente pra isso. No livro ela analisa a relação entre a construção da identidade de gênero e classe (o que é ser mulher desta classe social) e as trajetórias de ex-alunas de três colégios femininos de elite da cidade de São Paulo nos anos 50/60. Embora a “elite” pareça de fora um grupo homogêneo, é preciso entender que há grupos e grupos nesta categoria e que há uma disputa entre eles. A pesquisadora analisa três escolas que atendiam a três grupos distintos da elite – mais e menos conservadores/tradicionais, entre outros marcadores de diferença social. Ela percebe que as trajetórias seguem certa tendência de acordo com o que significava esse “ser mulher” para cada socialização escolar. [leia um artigo aqui e outro aqui e mais um aqui]
O mais interessante aqui é como o ambiente segregado por gênero pode ser tanto um ambiente de construção conservadora quanto de construção mais inovadora da identidade. Não sei, pessoalmente, qual o caso do Colégio São Bento. Mas aproveito pra lembrar que relacionar de forma automática a escola mista a ambientes mais progressistas em termos de uma educação não-machista pode ser extremamente equivocado.