Essa semana recebi um documento, de uma amiga integrante do NIEM da UFRGS, sobre 0 trabalho que uma pesquisadora associada do núcleo esta desenvolvendo em Portugal para seu doutorado. A Mariana Selister, está desenvolvendo uma tese sobre a representação da mulher brasileira na mídia social portuguesa. Ela elaborou o Manifesto Mulheres Brasileiras – manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal. Convido todas as amigas blogueiras a lerem, é muito interessante.
Partindo da leitura do Manifesto da Mariana, viajei em alguns minutos para alguns anos atrás quando participei da organização de uma exposição de cinema sobre a ditadura militar. Em uma reunião participaram alguns rapazes de outras regiões do Brasil. Entre as conversas que rolavam entre eles consegui perceber o interesse por arrumar uma “gaúcha” para passar a noite, volta e meia esse termo era repetido: arrumar uma gaúcha, as piadas sobre gaúchas eram frequentes… Só depois do término da reunião fui entender que o gaúcha, era o termo usado para prostituta. Depois ainda conversando com algumas colegas, recebi relatos de que em alguns telefones públicos de cidades brasileiras, nos anúncios de garotas de programa, consta o termo gaúcha, estilo gaúcha para atrair clientes. Também constam os termos baiana, carioca, paranaense para caracterizar a sensualidade da mulher no anuncio…
Ahhh as gaúchas. Mulheres belas, altas, loiras, sedutoras, ahh o sotaque, ahhh o corpo, ahhh isso e aquilo, o jeito que elas chupam a bomba do chimarrão.. hummm o que elas querem na verdade hein? Ai as baianinhas arretadas… As cariocas ousadas e de corpo escultural… Essas Baianas, as Paulistas, as Cariocas, as Paranaenses.. Ahhh essas brasileiras. No fundo a região pouco importa, somos todas mulheres, somos todas catalogadas como pedaços de carne, no qual é imputado um valor. Nosso corpo é público e domínio de um público masculino.

As gaúchas usam jeans justo, botas de salto alto, chapéu e domam os homens na cama, as baianas são facinhas sabe? Essa coisa de carnaval e axé (sim porque toda mulher nascida na Bahia adora e sai todo ano no trio elétrico e escuta axé 24 horas por dia), as mulheres de Recife e suas sainhas de frevo bem curtinhas para seduzir os homens (sim, gurias de Recife, vocêss vestem esse traje o tempo todo), as cariocas com o corpo bronzeado e os biquínis minusculos andando pelo calçadão e dançando funk pancadão..
Temos este estigma porque somos gaúchas, baianas, cariocas? Talvez as características divulgadas de nossas regiões, a imagem que é vendida, reforce algumas caracteristicas dentro dessas categorias, mas no fundo a linha mestra é a mesma: recebemos este estigma e somos catalogadas porque Somos Mulheres! E se já não bastasse isso, nascer mulher, o sexo ardiloso, ainda nascemos BRASILEIRAS! As DEUSAS do sexo! As sedutoras, as fogosas! Se você for mulher, brasileira e negra, então? Nossa! É uma mulher indomável, incontrolavel, insaciável a procura de homens! Como foi a campanha da Devassa? É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra.
Nós, feministas, devemos trazer para nosso dia-a-dia esse árduo trabalho de desconstruir esses estereótipos. Discutir, problematizar, parar e assistir o outro na reflexão sobre o “ser mulher”, seja no trabalho, na escola ou na fila da padaria. É necessário falar! A cada dia que passa, cada vez que vejo anúncios publicitários ou a grade de programação da TV aberta ou as letras de músicas, trazendo uma mulher persuasiva que consegue tudo que quer usando seus seios e bunda, mais me preocupo. Me preocupo com os estragos que esta imagem faz na sociedade. Me preocupo com os estragos dessa opressão nas meninas e meninos! Devemos dar atenção especial para as meninas e meninos. Devemos sempre que possível dialogar, trazer esse recorte para dentro da nossa rotina, do nosso cotidiano, podemos sim fazer a diferença.
“A mulher quando diz não, ela esta querendo dizer sim, a mulher é insaciável…” No fundo de cada uma dessas afirmações que colocamos aqui percebemos a mulher sob a ótica patriarcal, sob a ótica da mesma ser uma propriedade masculina, onde ela está ali para satisfazer o homem, onde seu corpo tem valor conforme a satisfação que ele pode provocar ao seu senhor. Quantas amarras, caras companheiras…
Vamos nos unir cada vez mais! Vamos repudiar toda e qualquer opressão, todo e qualquer estigma que nos é imputado. Eu acredito na mudança. Acredito sim que nosso trabalho, nossa militância possa ajudar a gestar um mundo onde você não tenha que ser santa ou puta, onde seremos mulheres livres. Cada pessoa que se liberta dessas amarras é um mundo que muda, um mundo novo que surge.