Ser emotiva e ser racional

Muitos homens acusam as mulheres de serem emotivas demais e de que isso seria ruim para o trabalho profissional. Nas entrelinhas, fica a dica de que por isso as mulheres seriam incapazes de ocupar posições que exijam frieza e praticidade. Ao mesmo tempo, quando são “frias”, as mulheres são tachadas de masculinizadas. Será que precisamos deixar o que sentimos em segundo plano para conseguirmos trabalhar ou viver “melhor”?

Nessa semana eu vi um episódio de Fringe em que o chefe acusava a gente do FBI (protagonista da série) de estar se deixando envolver demais pelas vítimas, e que isso estaria atrapalhando a investigação. Num discurso emocionante (pelo menos para mim), ela responde que é muito comum que os homens digam isso das mulheres, mas que ela não está nem aí. Porque sim, ela se envolve emocionalmente mas, ao contrário dele, ela não acha isso ruim. Para ela isso a ajuda entrar na cabeça das pessoas envolvidas e, consequentemente, ela se torna uma profissional melhor.

Ocupação de Wall Street. Foto de David Shankbone no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Essa lógica racionalista da eficiência me incomoda bastante e eu tenho dúvidas se deixar as emoções de lado é mesmo importante. Tenho a impressão que esta é uma forma de tornar tudo impessoal e distante, como se as pessoas simplesmente não importassem. Afinal, para ser uma grande executiva e ganhar milhões, eu não poderia me importar que algumas crianças fossem exploradas em países mais pobres, não? A ativista Naomi Klein, em discurso na ocupação da Wall Street disse:

“O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical”.

Eu concordo com ela. Acredito que é possível equilibrar razão e emoção de modo a conseguir que nos deixemos sensibilizar pelas histórias das pessoas, para que não aceitemos a frieza e a impessoalidade que vem marcando o nosso mundo contemporâneo. Acredito também que não é só uma questão de conciliar razão e emoção naquilo que fazemos, é acreditar que esta é uma chave importante para a mudança que queremos nas nossas vidas e no mundo. Alguns diriam que esta é a concepção de um mundo mais feminino, eu acredito que é o sonho de um mundo mais justo.