O combate que vai além dos ringues

Já está confirmado: o boxe feminino estará incluído nos jogos olímpicos de Londres em 2012. Sem dúvida é uma boa notícia,  porque será possível que mais mulheres participem do maior evento esportivo do mundo e numa modalidade que foi (ou é) considerada “coisa de homem” por muito tempo. Mas uma sugestão da Federação Internacional de Boxe durante um encontro na Suíça só demonstra o quanto uma lógica machista e mercadológica pode ser capaz de coibir e de diminuir um avanço de tamanha dimensão.

Boxeadoras em combate nos Jogos Panamericanos de Guadalajara - 2011. Fonte: UOL/Esporte

A ideia gerou muita polêmica e foi – ainda bem – bastante mal vista entre competidor@s e por parte de apreciador@s do esporte: foi sugerido que as lutadoras usassem minissaias durante os combates. A Federação ainda não se pronunciou definitivamente, mas afirmou em nota oficial que “está buscando o consenso mundial da família do boxe e do público em geral para este tema”. Mas, o que seria esse “consenso mundial da família do boxe”? Quem seriam os “membros” desta “família”? E de qual “público em geral” estão falando?

Katie Taylor, três vezes campeã mundial de boxe, afirma: “Eu não vou usar minissaias. Eu não uso saias nem quando saio à noite, então certamente não vou usá-las no ringue” (continue lendo em Entidade causa polêmica ao sugerir que boxeadoras usem saias em Londres -2012). Como se não bastasse todo o preconceito que ela – e mulheres esportistas em geral –  provavelmente enfrentou, ainda tem de lidar com o fato de ver o seu esforço diminuído, ridicularizado e profundamente desrespeitado em forma de um traje mais “feminino”.

Modalidades esportivas femininas sofrem constantemente com este tipo de “intervenção”. A justificativa é a de que desta forma, atrairiam mais público (e mais lucro para os organizadores e empresários, obviamente). Temos a impressão de que quando uma mulher opta por ser uma atleta, o que importa não é o seu preparo, o quanto ela treina ou quão talentosa ela é. Ela tem que ser, antes de tudo, atraente. Decorativa. Parece que não é tão “legal” quando ela “apenas” compete. E como a maior parte do público de esportes como o boxe é composta por homens, fica bem claro que a sugestão da Federação Internacional de Boxe é bastante machista e unilateral.

Eu, particularmente, gosto muito de boxe. Gosto muito de esportes em geral. E fico feliz quando vejo que cada vez mais mulheres estão deixando de ser meras coadjuvantes, musas ou torcedoras para serem as estrelas principais, atletas consagradas e brilhantes.  É motivo para comemorar o fato do boxe feminino estar presente em uma olimpíada. Mas ainda estamos longe de acabar com tanto preconceito e machismo que norteiam a carreira de muitas esportistas. Casos como o da Federação Internacional de Boxe não são isolados. Contudo, a recusa de atletas como Katie Taylor provam que é possível sim acabar com isso. A rejeição de parte do público é um sinal de que práticas como a descrita nada tem a acrescentar para a popularização do esporte. É um combate que vai além dos ringues, mas que avança pouco a pouco a cada dia.

Para saber mais: Matéria (em inglês) do Washington Post sobre a sugestão da Federação Internacional de Boxe. Outros esportes, como o futebol, ainda mantêm preconceito muito grande contra as mulheres.