A violência da mulher pela mulher: por que é tão fácil agredir mulheres?

Nessa luta pelo fim da violência contra a mulher, muitas vezes, nos esquecemos de apontar o dedo “de mulher para mulher”. A questão é que não são somente os homens e suas leis e suas tradições que nos agridem. Nós, mulheres, não custamos a nos machucar, de diversas formas. Então, pergunto-me: Por que parece tão fácil atingir mulheres?

Se nosso parceiro nos trai e há uma mulher envolvida, provavelmente, será ela a acusada de ser uma puta, ainda que essa mulher não nos deva qualquer relação de fidelidade. Se um casal está aos beijos em local público, tenha certeza de que @s conservador@s de plantão tomarão ela como a puta e ele como o macho, porque macho, que é macho, não nega fogo, e “mulher direita” não se prestaria a esse desfrute.

Assim, quando uma mulher chama a outra de puta, ela não só está fazendo coro a um pensamento machista, que (des)valoriza a mulher de acordo com o número de parceiros sexuais, mas também está afirmando que há duas categorias de mulheres, as putas e as não-putas. O tragicômico dessa lógica é que, mesmo que a outra fosse super sexualmente ativa, ou seja, puta, isso não me tornaria não-puta. No fundo, as mulheres que chamam as outras de putas só estão ratificando um pensamento machista de que ser mulher é ser puta. E tod@s nós conhecemos bem a manifestação dessa percepção.

Quant@s de nós recebemos, constantemente, propostas sexuais camufladas ou explícitas? O que leva os homens a acreditarem que uma mulher solteira ou sozinha deva estar disponível para sexo? Ué, eles só podem imaginar que desejemos isso, porque somos, no fundo, uma legião de putas. E putas devem desejar sexo. Para conseguir sexo, tudo que o macho teria de fazer, é assediar a puta. Parece simples, né? E, dessa simplicidade, surgem os estupradores e os espancadores. Para completar esse ciclo de desrespeito, ainda haverá quem diga que nem todas as mulheres estão sujeitas à violência. Quem é estuprada e espancada? Claro que é a puta! Ou seja, há mulheres que mereceriam vivenciar a violência e há mulheres que se sentem no direito de perpetuar a violência.

Com quanta facilidade ouvimos uma mulher chamar a outra de puta? Com quanta facilidade nós mesmas somos chamadas de puta por outras mulheres? E, se outra mulher me chama de puta, é certo eu dizer que são apenas os homens que me agridem? Não! Nós mesmas nos agredimos e perpetuamos a agressão.

Em horário nobre da maior emissora aberta do Brasil, os capítulos que rendem ápices de audiência são, justamente, aqueles em que mulheres se estapeiam. A parte de chamar de puta, piranha, vadia, vagabunda, já não surpreende mais na ficção. Para piorar o cenário, o grau de violência que vemos empregado nas atuações das putas vs as não-putas do horário nobre é assustador, como mostram os vídeos disponibilizados abaixo. E, mais assustador ainda, é ver isso sendo aplaudido pel@s telespectador@s, afinal, a espancada “estaria merecendo”.

 

 

 

 

Por isso, se quisermos quebrar esse ciclo de violência dos homens em relação às mulheres, urge que nós mesmas paremos de nos agredir. Para iniciar esse exercício de civilidade, por favor, não chame a coleguinha de puta!

Imagem de destaque: Cena da novela Insensato Coração (2011) com Marina (Paola Oliveira) e Úrsula (Lavinia Vlasak).