Independência x Autonomia: uma reflexão

Muito se fala sobre a independência da mulher, sobretudo a financeira. Na maioria das vezes, associamos tal condição à liberdade em sua plenitude. Será que é isso mesmo?

Como se tornar uma super mulher. Imagem: M de Mulher - Abril/Divulgação.

Na verdade, não. Apenas o  fato de uma mulher ser a provedora de si mesma, ou de si mesma e de sua família não faz dela uma mulher livre. Uma mulher com autonomia. E há uma série de fatores que corroboram para que seja bastante difícil que ela alcance essa autonomia, independentemente de sua classe social, profissão ou escolaridade. Mas o que seria essa autonomia, afinal?

A autonomia refere-se a atitudes. Atitudes que demandam autenticidade diante de nós mesmas e diante do mundo, sem que haja a necessidade de adequação a um modelo pré-estabelecido de comportamento. E  a atual configuração de nossa sociedade colabora muito pouco ( ou nada) para que as mulheres sejam além de independentes, sejam autônomas.

Não é preciso ir muito longe para constatarmos a dificuldade que muitas mulheres têm de se enxergarem como seres autônomos e livres, cuja existência não deve depender da aceitação ou da aprovação dos outros. Qual mulher que nunca fez ou deixou de fazer algo pensando na imagem que fariam dela? Com medo de não ser aceita ou do que os outros iriam pensar? Isso acontece desde cedo, somos educadas para agradar. Para não impormos o nosso pensamento, para agirmos com delicadeza. Somos educadas ( sim, ainda) para a passividade.

Tal condição se reflete em nossa vida em diversos aspectos. Por esta razão, várias mulheres não conseguem, por exemplo, sair de relacionamentos amorosos destrutivos ou imaginarem-se sendo felizes solteiras; não conseguem aceitar o próprio corpo; têm dificuldade de atingir a satisfação sexual, reprimindo a todo custo os seus desejos; agem sempre de acordo com o que espera-se delas. Isso inevitavelmente gera muita frustração e este não me parece um caminho válido para pensarmos em igualdade.

Independência e autonomia são questões que não deveriam dissociar-se, mas caminhar juntas. É ótimo que a gente tenha alcançado liberdade política, liberdade de escolha, liberdade para ir e vir, para estudar, para trabalhar. Contudo, é necessário que façamos o possível para romper com essa cultura de que certas coisas não mudam porque é natural. Porque é assim que deve ser, e chatas somos nós, por ficarmos questionando ao invés de “deixarmos para lá” esses meros “detalhes”.

Obviamente, nada pode ser mudado do dia para a noite. Mas proponho que repensemos nossas atitudes. Mulheres: estamos exercendo a nossa autonomia, entendendo que somos pessoas completas?

Para saber mais: Independência e Autominia Femininas, artigo de Ana Paula Vosne Martins.