Vamos falar de Dona Yayá

Duas Guerras Mundiais, a Crise de 29, Semana de Arte Moderna e o Tenentismo. Foi no conturbado período do século XX, denominado de ‘A Era dos Extremos’ pelo historiador Eric Hobsbawm, em que viveu Dona Yayá, apelido carinhoso dado à Sebastiana de Mello Freire.

Dona Yayá aos 23 anos. Imagem de Wikimedia Commons em CC.

A vida de Yayá foi seguida de várias tragédias familiares. Nascida no berço de uma elite rural de Mogi das cruzes, foi trazida à Capital com seus irmãos pelo seu pai, um político muito influente na época, para fins de estudo. Foi em São Paulo que sua vida mudou.

Com apenas 13 já era órfão de pai e mãe, mortes que antecederam as de suas duas irmãs mais novas Leonor e Georgina. Como se a vida já não tivesse sido dura demais, aos 18 anos se deparou com o suposto suicídio de seu único irmão, Manuel de Mello Freire Júnior, que segundo relatos havia se jogado ao mar a bordo do navio “Orion”. A partir de então, era só ela, a herança milionária e seus tutores.

Seu drama familiar não foi a única coisa que chocou a sociedade, Yayá era, vamos dizer, uma mulher moderna pra sua época. Se o fato dela não querer casar já era uma afronta aos moldes de uma sociedade que criava as mulheres exclusivamente para este fim, imaginem uma mulher solteira em plena década de vinte dirigindo um possante Willis-Knight pelas ruas da cidade de São Paulo. Esta era Sebastiana de Mello Freire. Uma mulher independente e que frequentava rodas sociais de artistas, os quais sempre protegeu em plena época de grande repressão onde estes não eram muito bem vistos.

Estandarte sendo preparado na Casa de Dona Yayá. Foto de Lindacy Alves.

Os primeiros 31 anos da vida de Yayá foram intensos. Visitou a Europa em pleno estopim da 1ª Guerra Mundial, um tempo após seu retorno ao Brasil começou a apresentar sinais de insanidade mental tendo como auge a sua tentativa de suicídio em 1919.

A “Casa da Dona Yayá” que hoje é patrimônio histórico representa bem o hospício particular onde ela foi mantida até o final de seus dias. Naquela época só haviam Hospícios Públicos e seu tutor Albuquerque Lins adaptou a casa para “melhor” confina-la, o que só agravou o seu estado de demência. Acredita-se que o estado clínico de Yayá não passou de um golpe dos parentes para ficarem com a fortuna da herdeira, se foi, não deu certo. Ela faleceu em 4 de setembro de 1961 sem deixar nenhum herdeiro e a herança vacante passou a pertencer ao Estado. Hoje a ‘Casa da Dona Yayá” é o Centro de Preservação Cultural da USP.

E como uma forma de femenagear essa Mulher que marcou o bairro do Bexiga e a sociedade com a sua história, foi fundado em 2000 o Bloco Feminista Yayartes que há 12 anos sai do Coletivo Feminista União de Mulheres de São Paulo e vai pelas ruas de São Paulo em direção à ‘Casa da Dona Yayá”. Esse ano o bloco saiu no dia 12 de fevereiro espalhando um pouco de história e despertando curiosidade nas pessoas que as vê passando. Afinal, precisamos falar de Dona Yayá!

Autora

Ticiane Figueiredo de tantos caminhos, escolheu o Direito. De tantas causas, escolhi a Justiça. É militante feminista e uma eterna sonhadora, não a acorde.