Quarta-feira de cinzas, confesso que fazia tempo que não pulava um carnaval como este, das últimas vezes havia só ido há blocos frequentados por gente mais próxima com a Rosa, por conta de uma culpa materna enorme de ter que ficar com ela 24 horas por dia. Coisa que hoje vem se dissipando e começo a criar alguns mecanismos para não ter esta culpa materna que me rondará até o final da vida.

O fato das mulheres terem papéis definidos junto a sociedade – mesmo com uma pretensa equidade sendo propalada por aí -, como falei algo recorrente é a tal da culpa materna, como já senti isso diversas vezes, como já ouvi amigas falando sobre esta maldita companheira que nos acompanha desde o dia em que o rebento sai da nossa barriga.
Justamente por conta da divisão sexual do trabalho a tarefa primordial da mulher que é mãe é a de cuidar e se dedicar plenamente aos seus filhos, com um sorriso no rosto, como se tudo sempre fosse a perfeição na terra. Porém não é bem assim, já nos primeiros meses de maternidade ouvia e vivia um conflito enorme como conseguir descansar durante a noite para poder cuidar da pequena durante a manhã sem estar estressada e poder dar atenção necessária?
A necessidade de continuar a viver a vida, seja estudando ou trabalhando e a necessidade de ser aquela perfeita mãe de comercial de margarina é um esquema que nos deixa entre a cruz e a espada, pois novamente coloca a nós mulheres como se fossemos apenas uma coisa ou outra, ou somos mães dedicadas quase assexuadas, ou somos workaholics desalmadas. Não há meio termo e no final de contas o que sobra são os comentários e a maldita culpa materna.
Se vais ao bloco de carnaval com a criança, é um desatino, pois a criança pode quebrar uma perna ou sei lá o que. Se não vais pra faculdade por causa do filho, é por que estas deixando a tua vida de lado para se dedicar a maternidade. Se tens vontade de namorar e é mãe de filho pequeno é um desatino, por que a criança precisa de ti integralmente. Fora os clássicos do desespero da falta de sono noturno, cólicas, exaustão e se não estás feliz com a sua vida és uma péssima mãe, se queres ser para além de uma mãe assexuada e robótica, és uma péssima mãe.
Por fim, a máxima é a mesma: Não somos santas e nem putas, somos livres. Não queremos ser vistas como partes, mas queremos ser inteiras. E vamos combinar que esta maledita culpa materna muitas vezes nos destroça e acaba com as nossas forças.