Por uma educação com menos preconceitos

Texto de Bruna Mendes*.

Bom, sou leitora do blog desde 2012, porém me aconteceram algumas coisas que acho legal compartilhar.

Conviver com crianças é uma experiência cheia de aprendizados. É uma nova visão vinda de alguém que não raramente demonstra mais sabedoria que muitas pessoas mais velhas. E a infância é fase de formação de caráter e personalidade, o que exige muita atenção e cuidado dos responsáveis. Tenho um irmão de cinco anos e tenho passado por situações que me deram esperança em relação as pessoas.

Em dezembro de 2012, teve apresentação de final de ano na escolinha onde ele estuda e percebi que a maioria das crianças eram ”brancas”. Então, quando chegamos em casa, perguntei se na escolinha não tinham muitas crianças da minha cor (”morena”), se só tinham da dele (”branco”), ele me olhou e disse que tinham todas as cores, mas na hora do ballet as meninas tinham todas a minha cor. Foi quando reparei que eu estava com uma roupa cor-de-rosa e para ele a cor da pessoa é a cor da roupa que ela está vestindo, que essa coisa de separar as pessoas por etnia nem passa pela cabeça dele.

Outro fato, foi que ao perguntar para ele se poderíamos brincar de casinha, ele respondeu que isso era coisa de menina. Falei que não tinha nada a ver, que ele poderia brincar sim. Então, fomos no meu quarto, pegamos uma caixa de sapato e desenhamos a nossa casa e brincamos. Ele gostou bastante e agora não se importa mais que isso é ”coisa de menina”.

Foto de Λ |_ ν- Γ Ø. No Flickr em CC, alguns direitos reservados.
Foto de Λ |_ ν- Γ Ø. No Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Com essas e outras atitudes dele percebi que o preconceito é passado pelos pais e principalmente pelo conteúdo que a criança vê na televisão. Muitos consideram bobagem, mas ele não vê novela e cresceu vendo programas educativos (o que foi bom para gerar estímulos, aos 4 anos ele já estava lendo) e se continuar assim tem muitas chances de ser uma pessoa mais consciente, bem diferente de muitos casos que vejo por ai.

Uma vez, numa festa de aniversário infantil o pai ”brigou” com a mãe da criança que deixava o guri de quatro anos usar uma tiara de estrelinha, porque isso não era coisa de menino. Saí da festa apavorada com a incapacidade humana e com pena do futuro daquela criança. Um pai como esse dificilmente aceitaria comportamentos diferentes do padrão, como por exemplo, se o filho ficasse com outro homem.

Sinto que caminhamos para a formação de uma sociedade com menos rótulos (para nos enquadrarmos) e mais liberdade (para sentirmos), sinto falta de escolas que não separem as crianças por gênero; de histórias infantis com núcleos familiares diferentes do ”convencional”; histórias onde os pais estejam num mesmo patamar social, onde as tarefas sejam divididas, um menino use cor-de-rosa sem problemas e brinque de panelinha.

Ás vezes, ao me posicionar contra essa criação atual, as pessoas me dizem que não adianta criar diferente se a criança vai crescer e vai ter que encarar a sociedade como ela é. Porém, acho que a sociedade é feita por pessoas, portanto, apenas elas podem escolher o que vai ser aceito numa boa ou não, assim como a alguns anos atrás muitas das coisas que hoje aceitamos não eram nem cogitadas. E, até por isso, tenho minhas broncas com essa história de respeitar a sabedoria dos mais velhos, pois ao meu redor vejo muitos mais velhos que tem conceitos desumanos e absurdos.

Mesmo não sendo mãe, acho importante participar da educação de meu irmão. Brinco junto, vejo-o imaginar e entro na brincadeira sem julgamentos ou risos de deboche. Incentivo que ele pegue o ursinho e cuide, ”troque a fralda”, faça dormir, que ele cresça e ajude nas tarefas domésticas e ”aceite” as famílias independente de como elas são. Muitos pais achariam um absurdo, mas me orgulho muito de contribuir para que uma criança não seja mais um moralista machista ou preconceituoso sem fundamentos.

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*Bruna Mendes é vegetariana, ecologicamente e socialmente correta porém pouco moralista (graças!). Ama literatura, música, cinema e arte. Acredita mais na paz interior do que na mundial.