Texto de Fernanda P. de Brito.
Então, né? Espero que tudo bem com todas… Este é o primeiro texto que escrevo nesse espaço e pretendo fazer um breve apanhado sobre o futebol de meninas do meu tempo (antiiiigoooo!) e o de agora.
Compartilharei aqui um apelido que muito me constrangeu, humilhou e me revoltou… “Macho e fêmea”… Simples. Eu era uma menina que jogava futebol (pelada, ou como queiram chamar, futebol de rua). Naqueles tempos, nem tão antigos assim, isso era novidade. Pior, como quase nenhuma menina jogava, eu jogava com os meninos.
Sempre faço o contrário do que esperam de mim, no caso, ser uma menina que gosta de bonecas, brinca de casinha, comidinha, pular elástico… Eu era apaixonada (ainda sou) por futebol e aguentava até a rejeição para poder correr atrás de uma bola debaixo de um sol escaldante. Não foi nem um pingo fácil, eram poucos os meninos que não me apelidavam ou tentavam me excluir. Em parte por terem seu futebol viril ameaçado por uma garota que os derrubavam, marcava gol e não era perna de pau. Em grande parte, pelo velho e atual preconceito de que futebol é coisa de macho e para macho.
Hoje, além de ser legal o aumento na quantidade de meninas e mulheres que jogam futebol — mesmo tendo que enfrentar preconceito e pouco investimento e aceitação —, é legal ver meninas jogando futebol com meninos (misto) sem ganharem apelidos pejorativos ou serem excluídas porque “mulher não sabe jogar futebol”.
Tenho a forte convicção de que é pelo fato de meninas e meninos já terem seu papel pré-definido até nas brincadeiras, que hoje, ainda estamos na luta para fugir dos estereótipos que consagraram a imagem do que é ser mulher e do que é ser homem. Para as garotas que jogam futebol, vocês não são “macho e fêmea”, são garotas que jogam futebol.
E já que falar de garotas que gostam de brincar de bola é especular que no futuro elas queiram ser jogadoras de futebol profissional, vamos logo falar disso também.
Futebol parece ser esporte só de homem. Não porque mulheres não amem, joguem e queiram se tornar cada vez mais habilidosas; também não é porque o jogo de uma partida de futebol feminino seja sem emoção, energia e muita garra; tampouco é porque o número de jogadoras sejam insuficiente para montar vários times profissionais pelo país. Não é por nada disso, mas sim por causa do machismo, que enxerga o futebol como uma modalidade exclusivamente masculina no Brasil. O futebol masculino recebe muitos patrocínios, incentivo, altos salários dos clubes e da seleção, além de comissão técnica especialializada e alto investimento (bilhões) da CBF.
Enquanto os famosos e milionários jogadores (estou sendo modesta) exibem: o carro do ano, o casamento de milhões de dólares, a cara em mil e uma propagandas e pulam de time em time (sempre ganhando salários que para as nossas jogadoras são só um devaneio); a realidade do futebol feminino é o total oposto.
As jogadoras de nossa seleção feminina (que têm habilidades que fazem inveja a de times mundo afora) ou conseguem sair do país para jogar em um time que ao menos lhes pague o suficiente para o sustento e, para que mandem um dinheirinho para a família (não exagero); ou não conseguem sair e permanecem no Brasil jogando em times que: mal conseguem se manter, que para isso contam com o apoio financeiro que as próprias jogadoras buscam, e às vezes nem participam de campeonatos bem organizados ou nacionais.

Essas jogadoras muitas vezes necessitam trabalhar em outro serviço, com isso reduzindo o tempo de descanso ou treino. Mais desanimador ainda é que algumas param de jogar quando o sustento se torna inviável. Estamos falando de viver com dignidade, não de regalias ou uma vida de luxo, que sem dúvida elas também merecem.
Marta, brasileira, a melhor futebolista do mundo, por cinco vezes consecutivas, foi literalmente jogada para escanteio, teve que sair do país para poder conseguir viver de suas habilidades encantadoras. Nem vou dizer que é uma falta de vergonha na cara de quem poderia ter melhorado a situação.
É por causa de tudo isso, somado ao preconceito (principalmente o brasileiro) de quem não acha que futebol feminino seja importante e mereça atenção e respeito, que a seleção brasileira feminina não chegou nem perto de conquistar a admiração, desempenho e conquistas de títulos que a seleção masculina já conquistou.
Alguém pode dizer: “Não é por isso, é porque as mulheres não sabem e nunca vão jogar futebol com qualidade!” Em vez de xingar você, darei um exemplo: a seleção feminina do Estados Unidos, uma das melhores do mundo. Esta seleção é detentora de títulos mundiais e de destaque em seu país. Suas jogadoras são habilidosas, reconhecidas, respeitadas por homens e mulheres, ganham super bem, têm marketing de carreira, são qualificadas e tem aparato técnico pra isso. Os norte-americanos as reconhecem, apoiam, investem e comparecem aos jogos. As garotas de lá podem seguir carreira de futebolista sem medo.
Poxa! Aqui no Brasil tem um monte de mulheres e meninas querendo atuar no futebol, querendo que o Brasil seja também uma potência de futebol feminino, isso é igualdade, sacou? Assim como os homens futebolistas já tem todo o apoio (mais do que o necessário), as mulheres também querem e devem receber. Por que, não?
Chega! Chega das nossas jogadoras se sentirem humilhadas e jogadas de lado, sem salário decente, credibilidade, respeito, espaço na mídia, preparo técnico de qualidade, aceitação nesta sociedade machista… Um dia a gente chega lá, temos que acreditar nisso e chutar a “bola” até fazer gol. Pronto, fim do primeiro tempo.
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Fernanda P. de Brito tem 18 anos, é estudante de Gestão de Cooperativas, tocantinense, morando atualmente em Araguaína-TO. Gosto (vivo em função) de: ler(tudo), escrever(histórias de ficção), ouvir música e conhecer mais e mais do mundo à minha volta. Uma paixão: gatos. Algo que me excita: poder defender os que carecem de igualdade e respeito.