Apoio a Verônica Bolina

Texto da Equipe de Coordenação das Blogueiras Feministas.

No último fim de semana, Verônica Bolina (25 anos) foi presa no prédio onde mora, acusada de agredir uma vizinha idosa. Na delegacia, Verônica mordeu um agente carcerário e arrancou parte de sua orelha. Após esse evento, foram divulgadas fotos de Verônica com o rosto completamente desfigurado, o cabelo raspado, os seios expostos e a roupa rasgada. Indícios evidentes de violência e tortura.

Após ganhar a mídia, surgiram notícias de que Verônica estava “possuída” e os policiais tiveram que contê-la. Além dessa versão ser bem estranha, amigos alegam que ela reagiu violentamente contra o agente carcerário porque foi humilhada e colocada numa cela com outros homens.

Depois, áudios foram divulgados por Heloísa Alves, coordenadora de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo. Nesses áudios é possível ouvir uma voz, que seria de Verônica, afirmando que não foi torturada e não quer ser usada para fins políticos. Porém, mais áudios foram divulgados e numa das gravações é possível ouvir uma voz feminina ditando a fala de Verônica. Para justificar a existência dessa outra voz, em outro áudio, Verônica explica que havia pedido o auxílio de Heloísa Alves, pois estaria muito cansada e não sabia pronunciar a palavra “tortura”.

Em outras gravações, Heloísa Alves afirma que os áudios precisam ser divulgados o mais rápido possível com uma nota do Conselho Estadual LGBT, pois haveria na internet uma campanha afirmando que a modelo foi “torturada nos porões do governo Gerado Alckmin”. A coordenadora se mostra incomodada e diz que Verônica não foi coagida a dar qualquer declaração.

Além disso, no inquérito não constam imagens do rosto de Verônica após ser agredida, sendo que essas imagens foram amplamente divulgadas, tanto na internet como na mídia. São anexadas somente as fotos do carcereiro ferido e de Verônica deitada no chão de costas, ocultando qualquer tipo de agressão mais grave que ela teria sofrido.

O Centro de Cidadania LGBT, vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, disse, por meio de nota, que Verônica Bolina confirmou ter sofrido agressão em vários momentos durante sua estadia na carceragem do 2º Distrito Policial, no Bom Retiro. Os agressores seriam policiais militares e agentes da Polícia Civil.

A Defensoria Pública, responsável pela defesa de Verônica, informou ver indícios de abuso policial, com “agressões desproporcionais e exposição indevida”. Alessandro Melchior, coordenador da políticas LGBT da prefeitura de São Paulo, disse que Verônica revelou ter sido agredida mais de uma vez, inclusive dentro do hospital.

Campanha "Somos Todas Verônica". Imagem de Vitor Teixeira.
Campanha “Somos Todas Verônica”. Imagem de Vitor Teixeira.

Campanha “Somos Todas Verônica”

Há tantos absurdos envolvidos nesse caso que a transfobia ganha novas formas perversas. Verônica é negra e travesti. É evidente que por mais que tenha agredido pessoas, a violência que sofreu é absurda. Fora toda essa confusão na condução do inquérito e na divulgação de notícias. Por isso, foi iniciada na internet a campanha “Somos Todas Verônica”, cuja principal ferramenta é a página no Facebook, onde diariamente são publicadas notícias e imagens de apoio a Verônica.

Como disse Daniela Andrade, numa postagem em sua página do Facebook no dia 14/04/2015:

À pessoas como Verônica, o estado brasileiro não preza que se dê o direito à ampla defesa e o contraditório, bem como o devido processo legal.

À pessoas como Verônica, a quem o estado brasileiro nem considera que seja gente, há apenas o direito de deixar de existir, de forma geral, com bastante violência; para que as demais saibam que ser como Verônica é em si próprio considerado um crime por essa sociedade que odeia as travestis, as negras e as pobres.

Qualquer que seja o crime que tivesse sido cometido por Verônica, aos olhos da maioria, ela já cometeu um crime pior: ela existe. E isso essa sociedade doente não perdoa.

Nos unimos as outras pessoas que não querem ser cúmplices da transfobia estrutural e naturalizada. É preciso dar visibilidade ao que aconteceu à Verônica. Precisamos, como sociedade, nos envergonhar do nosso silêncio, da nossa conivência, da nossa misoginia, da nossa transfobia.

+ Sobre o assunto:

[+] Em defesa de Verônica Bolina. Por Jarid Arraes.

[+] Presa, negra e travesti: devemos ser todas Verônica. Por Renan Quinalha.

[+] Um beijo para quem é travesti. Por Deborah Sá.