Texto de Ana Carolina Pereira Costa.
Hoje é o Dia Internacional sem Dieta. Há algum tempo vivemos a moda do “fazer dieta” para perder peso. Fazer dieta é “cuidar de si”, é “abnegar-se das indulgências”, é “exercitar o autocontrole”. Fazer dieta é inclusive uma maneira de pertencer a um grupo social, no qual se compartilham dicas e estímulos para se manter “no caminho justo”.
Peço perdão pelas muitas aspas, mas elas não foram colocadas à toa. Essas aspas foram inseridas para reforçar o caráter irônico de minhas palavras, já que elas não quiseram dizer nada daquilo que literalmente representam. Explico melhor.
Estou falando de dietas restritivas de forma geral, ou seja, qualquer tipo de controle alimentar que imponha de forma genérica que a pessoa coma em menor quantidade e apenas determinados tipos de alimentos. Qualquer programa de controle alimentar que imponha uma caracterização entre alimentos “bons” e “ruins”, “saudáveis” e “não-saudáveis”. E, acreditem, muitas “reeducações alimentares” são dietas disfarçadas, como explico no texto: Dieta não é reeducação alimentar! Porque, em realidade, qualquer alimento pode ser saudável dependendo do contexto, quantidade, etc.

Vamos começar por um dos gatilhos que levam as pessoas a fazerem dietas restritivas: o desejo por um corpo que esteja de acordo com o padrão de beleza vigente, que para as mulheres ainda se caracteriza pelo corpo esbelto, por vezes excessiva e rigidamente magro.
Pensando no histórico do padrão de beleza feminino, muitos sabem que nos anos 50, com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um retorno dos valores conservadores, como que para dar sentido àquela época caótica e carente de esperança. O papel da mulher era ser atraente para os homens, arranjar um marido, ter filhos e cuidar de casa, mas sem deixar de estar bonita e feliz à noite… Um corpo que simbolizava esse ideal era o de Marilyn Monroe: corpo cheio de curvas, que hoje seria até mesmo visto como “rechonchudo”.
Então, entre os anos 60 e 80, a mulher começou a assumir seu papel no mercado de trabalho, começou a ter novas prioridades, e o corpo magro veio como resposta a tudo isso: uma imagem das mulheres de assumirem um corpo que fosse menos “sex symbol” e mais andrógino, mais parecido com o corpo masculino. Tem-se como exemplo Twiggy, a primeira super modelo.
Infelizmente, o corpo magro, que talvez visasse dar um outro significado ao papel da mulher na sociedade, acabou aprisionando-as em um outro padrão de beleza, e esse bem mais rígido e cruel que o anterior. Não estou aqui tentando defender um ou outro padrão de beleza, pois sempre que houver um padrão haverá pessoas que não se encaixarão nele e, portanto, serão excluídas. Mas fazer dieta restritiva, de certa forma, é um conformismo com esse aprisionamento a qual estamos expostos.
Além disso, fazer dietas restritivas, por questões psicológicas e fisiológicas, aumenta a obsessão por comida, nos desconecta de nossos sinais internos de fome e saciedade e nos torna mais instáveis emocionalmente. Quando se faz dieta para perder peso, o tempo gasto com os rituais e regras da dieta é excessivo, impedindo as pessoas de ocuparem os valiosos momentos de sua vida com aquilo que realmente faz sentido pra elas.
As pessoas que de fato precisam de uma restrição alimentar específica —por exemplo, uma pessoa com doença celíaca confirmada, que não pode comer glúten — normalmente o fazem por uma questão de saúde exclusivamente, e acabam “se conformando” com a restrição, pois sabem que não existe outra alternativa. Ao escrever esse texto, não falo desses casos, penso nas mulheres que de fato têm a mudança corporal como motivação para fazer dieta, para se adequar a padrões que não representam a diversidade de corpos das pessoas.
Ou seja: dietas restritivas não são o caminho para lugar nenhum, a não ser para o aprisionamento e para a infelicidade. Dietas restritivas não funcionam de fato. E, como disse Naomi Wolf, feminista e autora do livro ‘O Mito da beleza’: “fazer dieta é o maior sedativo político das mulheres”.
Autora
Ana Carolina Pereira Costa é nutricionista e autora do blog: O Corpo é Meu.