Esse mês, estamos publicando uma série de entrevistas com candidatas a vereadoras de várias cidades brasileiras, que declaram-se feministas, com o objetivo de publicizar propostas feministas e incentivar maior participação das mulheres na política.
Claudia Mallmann é candidata a vereadora pelo PSOL na cidade de Toledo/PR. Página do Facebook: Claudia Mallmann 50123.
1. Você pode fazer um resumo sobre sua trajetória política até essa candidatura?
Sempre fui muito questionadora e, desde que me lembro, sofro com as desigualdades. Na adolescência, eu costumava passar de sala em sala para falar sobre a importância do Dia Internacional da Mulher, dos direitos que ainda não tínhamos e dos que estavam ameaçados. Entrava em qualquer briga em que eu pudesse me posicionar na defesa das mulheres e dos grupos LGBTs. Acho que aí eu já era feminista.
Em 2004, participei da Primeira Conferência Nacional de Políticas Publicas Para Mulheres. Foi uma experiência muito importante. Depois entrei na graduação em Ciências Sociais, na UNIOESTE, onde participei do Movimento Estudantil integrando o Centro Acadêmico do Curso. Esse período foi de uma militância mais intensa. Organizávamos manifestações e pautávamos a política do município. Participei de Conferências de Educação, Juventude, Cultura, etc.
Em 2011, após me graduar, mudei-me para o Sudoeste Paranaense, onde dei aula de Sociologia em duas escolas estaduais. As aulas sempre tiveram como foco a construção humana e cidadã, dos alunos. Feminismo sempre foi uma pauta das aulas em todas as turmas em que lecionei.
Hoje moro novamente em Toledo, sou casada, mãe de dois meninos, milito no PSOL, e produzo arte questionadora principalmente com pautas feministas.
2. Quais você considera que são os principais problemas a serem enfrentados pelas mulheres hoje?
Hoje temos inúmeros problemas a enfrentar. A violência doméstica ainda é o maior problema, em minha opinião. Coloca-se a mulher numa situação análoga à escravidão. De modo que ela não tem domínio sobre a própria vida e o próprio corpo. Seus feitos são invisibilizados, suas vontades anuladas, e a sua vida está sempre em risco. A Lei Maria da Penha foi um ganho, mas ainda é ineficiente em alguns casos, principalmente por não ser aplicada integralmente, e pelo despreparo das instituições no atendimento às vítimas.
Outros problemas muito importantes a serem combatidos são: a cultura do estupro e a culpabilização da vítima; as violências contra lésbicas e mulheres trans; violência obstétrica; criminalização do aborto; a situação das mulheres em presídios; e principalmente, fazendo um recorte de classe, tudo que atinge às mulheres pobres, negras e periféricas, que são as mais afetadas quando há ausência que serviços públicos de qualidade, como educação, segurança e saúde, por exemplo.
3. Qual tema feminista você tentará ter como foco caso seja eleita?
É difícil, como vereadora abordar um único tema em uma sociedade tão conservadora e machista como é a nossa. Talvez a questão da educação sobre diversidade e gênero seja o primeiro passo para essa mudança. Essa pauta foi retirada integralmente dos Planos Municipais de Educação de vários municípios do país, inclusive aqui em Toledo, mas deve ser recuperada e incluída em projetos que visem o respeito a diversidade em todas as fases da educação.
Se possível apoiarei coletivos e movimentos já existentes e projetos para o combate aos demais problemas, em especial a violência doméstica.
4. Quais as dificuldades em ser uma candidata feminista no sistema político brasileiro?
Ótima pergunta! Temos um sistema político machista e conservador. Ser mulher já é por si só uma batalha diária. Ser mulher, mãe, feminista, socialista e estar na política, hoje eu posso dizer que é uma guerra muito dura.
Tem coisas que me abalavam no começo, mas tenho tentado reverter isso em coragem e força para avançar mais. Ouvi homens e mulheres dizerem que não votam em mulher, justificando que a mulher não tem capacidade para administrar, governar, etc. Outros perguntaram se sou casada e quem é meu marido. Fui assediada várias vezes, com apertos de mão mais demorados, beijos na mão, no rosto, abraços, mão na minha cintura, e a frase clássica “vou votar em você porque você é bonita”.
Talvez por causa das cotas de 30%, hoje a gente tem um número maior de mulheres candidatas, sem dúvida é um ganho. Mas mulheres candidatas com consciência da condição de Ser Mulher e das nossas necessidades para avançarmos numa sociedade mais justa, humana, igualitária e plural. Essas ainda são poucas, infelizmente.
Espero estar com todas as outras feministas que estão na política dando um passo a mais na construção dessa igualdade que tanto almejamos!