Texto de Brenda Oliveira para as Blogueiras Feministas.
Como é bom ter alguém dedicado a te fazer feliz, a te conceder seu tempo, seu espaço e dividir os planos de sua vida. Mas, em que momento, “o querer” e “o cuidado” tornam-se uma via de mão única e um benefício unilateral?
Ninguém é capaz de apontar o exato momento em que uma relação de duas pessoas se torna a submissão de alguém, entretanto, é possível a percepção de comportamentos possessivos – jamais amorosos – ocorridos no dia-a-dia de um casal.
Historicamente e, LAMENTAVELMENTE, os relacionamentos abusivos são normalizados pela cultura, ignorados pela sociedade e diminuídos dentro da relação familiar, isso é inadmissível! A maioria que defende a inexistência de abuso na relação “amorosa” de um casal utiliza-se da perigosa ideia de que tudo é justificável quando é feito “por amor”. O constrangimento pelo excesso de ciúmes, a implicância esporádica com os seus costumes, a obsessão pelas suas roupas ou circulo de amizade, o abuso sexual, dentre outros inúmeros comportamentos possessivos — jamais zelosos — que retratam a violência física e psicológica, que equivocadamente é romantizada.
Sempre há comentários como: se ele tem ciúmes é por que ama você; você não deve se comportar de “tal” maneira, você envergonha o seu marido. Ou, gerar situações que possam fazer com que outros homens tenham desejo por você: suas roupas não são adequadas, comporte-se, respeite o seu parceiro; mulher não tem amigo homem; faça tudo que seu parceiro quiser sexualmente ou ele vai procurar na rua. Diga-me, nunca ouviu essas frases antes?

Diga-me, és capaz de romantizar essa manchete: “Matei por amor!”? Na cidade de Jaru (RO), no dia 14 de abril de 2019, um homem de 51 anos esfaqueou a ex-mulher “por amor”. Durante o registro da ocorrência ele disse: “eu falei pra ela que no dia que a visse com outro, eu a mataria porque eu amo ela demais. Bom, amava, já que agora está morta e conseguiu finalmente a separação”. O que te causa ler isso?
Tende-se a identificar como violência somente aquilo que é visto a olho nu, a violência sexual ou física, mas e a violência silenciosa? Aquela que não aparece na manchete do jornal e que a sociedade considera normal. A violência tem inúmeras faces, seja ela psicológica, moral, patrimonial ou virtual, todas são tão graves como as que são vistas a olho nu e divulgadas em jornais de grande circulação. Todas causam marcas irreparáveis, sejam elas sob ou sobre a pele. Até quando você, ou vocês, romantizarão a conduta ofensiva daquele sedento por poder e controle?
As amarras que prendem a vítima ao abusador são perceptíveis pela sociedade e ao mesmo tempo ignoradas. Não ignore, não se submeta, lute por relacionamentos baseados na reciprocidade, igualdade, empatia e cumplicidade. Diga não ao relacionamento abusivo! Diga não a violência romantizada!
Autora
Brenda Oliveira é estudante de Direito.