#BlogFem entrevista candidatas feministas: Maria Rita Casagrande

Esse mês, estamos publicando uma série de entrevistas com candidatas a vereadoras de várias cidades brasileiras, que declaram-se feministas, com o objetivo de publicizar propostas feministas e incentivar maior participação das mulheres na política.

Maria Rita Casagrande é candidata a vereadora pelo PSOL na cidade de São Paulo/SP. Página no Facebook: Maria Rita Casagrande 50025.

1. Você pode fazer um resumo sobre sua trajetória política até essa candidatura?

A política sempre foi algo presente na minha vida, meus pais são militantes de esquerda desde que eu me conheço por gente. Passei boa parte da infância em reuniões políticas e comícios. Política e feminismo foi parte da minha formação em casa. Minha primeira memória de manifestação individual foi no início dos anos 90 me manifestando pelo impeachment do Collor, depois na greve do professorado em 1993 e participando do movimento estudantil.

Sempre morei na periferia e como mulher negra dificilmente escaparia de me interessar e lutar por melhoria das condições de vida e igualdade. Mais difícil ainda ficar quieta diante de situações de desigualdade, ser militante, ativista de inúmeras causas foi meio que o caminho natural.

Eu sou blogueira desde 1998 e encontrei na escrita uma maneira de tornar publico aquilo que eu pensava e vivia, meus posicionamentos políticos. Em 2012 me aproximei mais da questão LGBT ao me relacionar com uma mulher, criei o True Love um site sobre o universo de mulheres que amam mulheres, no mesmo ano participei da construção da Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo. Em 2013 fui convidada a construir conjuntamente o Blogueiras Negras com o objetivo não só de combate ao racismo mas de buscar a valorização da produção intelectual de mulheres negras, respeito, direitos, enfim, minhas lutas dizem muito sobre a pessoa que eu sou. Sou uma mulher negra, mãe, feminista, bissexual, casada com um homem trans, gorda, periférica , estranho seria eu me afastar de questões políticas, não tenho como ignorar o que eu vivo e o que outras pessoas certamente vivem em condições semelhantes ou piores. Eu acredito em mudança, por isso minha candidatura neste momento.

2. Quais você considera que são os principais problemas a serem enfrentados pelas mulheres hoje?

São tantos problemas, mas os reflexos do machismo que geram toda uma violência contra as mulheres acredito que seja o principal. Lidamos com violência física, verbal, psicológica, institucional. Estar viva, estar presente é razão para que sejamos violentadas.Hoje não temos sequer direito a nosso próprio corpo. E é uma violência aceita socialmente o que torna o combate de extrema dificuldade. Mas a gente vai mudar e conscientizar, ocupar espaços, sem retrocessos.

3. Qual tema feminista você tentará ter como foco caso seja eleita?

Acho que não tenho uma proposta ou plano de trabalho que não seja feminista, mas acredito que lutar por uma educação que se aplique aos direitos humanos, pela diversidade sexual e de gênero, pela igualdade racial e igualdade de gêneros é um ponto importante, assim como a criação e proposição de programas que discutam e ajam pela saúde psicológica das mulheres (cis e trans, inclusas as travestis), em especial as negras que se encontram na camada mais marginalizada da cidade. O contínuo combate a violência contra mulheres, o apoio a descriminalização do aborto, enfim, sou feminista e não tenho como escolher um tema feminista apenas para que seja meu foco, toda pauta feminista é minha pauta. O meu trabalho e meus posicionamentos feministas certamente guiarão minha vereança.

4. Quais as dificuldades em ser uma candidata feminista no sistema político brasileiro?

As pautas das mulheres são tidas como de menor importância. Não encontramos apoio para questões que nos são caras. É mais fácil dialogar sobre buraco em rua e aumentar ostensivamente policiamento do que dialogar a respeito da violência contra as mulheres. Mas ser candidata não é diferente daquilo que a gente vive no dia dia, pra quem mata um leão por dia pra estar viva bater de frente com o sistema é mais do mesmo. Candidaturas feministas são necessárias, a política também nos pertence e temos total capacidade e preparo para encarar o que vier independente de cenário político. A gente segue e não vai só.