Texto de Lua para as Blogueiras Feministas.
Chamo-me Lua (não quero identificar o meu verdadeiro nome), tenho 23 anos, nordestina, youtuber iniciante que retrata vivências nos vídeos, taurina, apaixonada por discutir as questões que permeiam a vivência de mulheres lésbicas, escrever poemas que falem sobre o corpo e o sexo lésbico.
Quero iniciar dizendo que: SIM, SOU LÉSBICA! E sei que essa descoberta pode ser completamente difícil para algumas meninas, mas para mim foi um pouquinho diferente. O sentimento foi de surpresa, de felicidade, como se eu tivesse encontrado um tesouro. Eu passei por alguns percalços, inicialmente, mas nada que desestabiliza-se meu emocional, é como se desde nova eu tivesse a certeza, mas a heterossexualidade compulsória imposta primeiramente por minha família e depois pela sociedade, me cegasse e não me desse espaço para que eu descobrisse esse corpo carregado de resistência e desejo pela vida, por mulheres, também.

Tudo começou quando eu era bem pequena, vi uma mulher na rua, senti atração por ela, mas logo depois pensei: “eu deveria sentir nojo disso”. Isso é extremamente pesado para mim, pois ainda é complicado entender essa frase, mas me perdoo porque eu compreendo que os fatores externos me obrigavam a pensar assim, eu só não percebia, aliás, como perceber se tudo ao meu redor me fazia pensar que acima de tudo, eu precisava ser heterossexual… Depois disso, passei a ler histórias que envolviam sexo e me masturbava com auxílio da minha imaginação, eu nem sabia direito o que estava fazendo, mas era legal para mim e eu continuava. Sentia que ninguém poderia saber, afinal de contas, “só os meninos podiam falar disso publicamente”.
Mesmo com essas evidências, eu namorei homens por muito tempo, tive relações sexuais, mas sempre algo faltava, era como comer bolo de cenoura sem recheio de chocolate, eu nunca me sentia satisfeita no fim do sexo. Era penetração e só. Mas, eu não tinha consciência em me questionar sobre aquilo, o motivo de eu nem me expressar com quem eu tirava a roupa não era claro, eu só sabia que precisava fazer. Precisava porque era isso que mulheres faziam com seus namorados. Foi o que me disseram e eu só seguia. “Acho que é assim mesmo”, eu pensava. Pobre menina iludida! Mesmo ficando com homens e (namorando) me questionava como seria fazer sexo oral em uma mulher e isso era o principal assunto com a minha melhor amiga, até que as coisas mudaram.
Minha amiga sempre me aconselhava a ir fundo, ficar com mulheres, experimentar, ser eu, de fato. Até que aconteceu meu primeiro beijo. FOI MASSA. Eu estava ansiosa, nervosa, tremia e não sabia mais como se andava. Conversei com uma menina pelo Facebook, na época, daí numa festa LGBT da minha antiga Universidade, foi onde tudinho rolou. Ela disse que eu era muito fechada, ficou receosa, mas um tempo depois pegou minha mão e disse “Vamos ali?”. Eu já havia entendido, estava super agitada, mas não queria desistir, então ela perguntou se podia me beijar e eu disse que sim, então rolou e foi ali, exatamente ali, que senti que eu me enganei a vida toda! Imaginem o caos que se formou dentro do meu peito naquele exato momento.
Desde então, fiquei com várias mulheres, descobri muito sobre mim, meu corpo e quem sou. Não me arrependo de absolutamente nada e tô incrivelmente feliz em ter me descoberto como lésbica. Eu só sei dizer e sentir orgulho da minha orientação sexual. Amo amar mulheres, o fato de querer construir história com outra mulher é tão divino, é revolucionário. Hoje, eu namoro uma menina e estamos imensamente felizes e realizadas. Ela também passou por um processo parecido e hoje continua a se descobrir, bem como eu e juntas vamos participando do processo uma da outra. Minha família não sabe (alguns desconfiam!) Mas, fui explícita para minha mãe e contei tudinho. Ela não toca muito no assunto, não pergunta se estou com alguma menina e também desconversa se tento explanar algo sobre, mas nunca pediu para eu mudar de ideia ou disse que era só uma fase, talvez precise de tempo para se acostumar e entender as coisas.
Ainda não saí do armário como gostaria, mas ando de mãos dadas com minha namorada, trocamos afeto na rua, no açaí da esquina, simplesmente demonstramos o nosso amor. Sei que tudo é aos poucos e pode me custar muita coisa assumir minha orientação, mas eu não aceito desistir de mim, de novo. Porque quando me fizeram crer que beijar homens e transar com eles era o natural, privaram minha essência de florescer. Não me deram espaço para pensar e refletir sobre o que me causava, de fato, desejo e felicidade. Pode não ser o momento agora, hoje, ou amanhã, mas JAMAIS desistirei de ser quem eu sou, não me permito mais esconder a minha personalidade e o tanto que me orgulho dela!