Bertha Lutz e o voto feminino

Uma importante personalidade feminista merece nossas homenagens hoje, quando se comemora seu nascimento. A paulista Bertha Lutz (1894-1976) entrou para a história por sua atuação pelo direito ao voto para as mulheres. O movimento sufragista chegou ao auge nas primeiras décadas do século XX, e alcançou resultado na Constituição de 1934, com a garantia, para as mulheres alfabetizadas, tanto de elegerem seus representantes como de serem votadas.

Bertha Lutz (1894 – 1976)

Formada em Ciências Naturais pela Sorbonne (seguindo os passos do pai, Adolpho Lutz) e em Direito no Rio de Janeiro, com acesso privilegiado aos estudos em tempos de índices elevadíssimos de analfabetismo (em 1940 o índice chegou a 56%), Bertha foi também pioneira no funcionalismo público, ao ser aprovada para um cargo na Biblioteca Nacional, onde trabalhou por 40 anos. Dedicou-se também à defesa dessa categoria, como a garantia dos direitos adquiridos por concurso e a não transferência de funcionários casados para localidades diferentes.

Com o apoio da maior associação americana em prol do sufrágio feminino, a NAWSA – National American Woman’s Suffrage Association – fundou, em 1922, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, onde se empenhou na luta pelos direitos da mulher, alcançando grande visibilidade nas esferas políticas. Um fato que demonstra a influência de Bertha foi a sua participação na Comissão Preparatória do Anteprojeto da Constituição de 1934. Dois anos depois, exerceu, ainda, o direito de ser votada, ao assumir uma cadeira como Deputada Federal.

O filme Iron Jawed Angels, assunto desse post, tem como foco o movimento sufragista americano. Angelica Houston interpreta Carrie Catt, presidente da NAWSA, dona de uma postura que, apesar de conciliatória, define um momento crucial de conflito entre a facção mais radical do movimento e o Estado.

No Brasil, o movimento também seguiu esse viés, visto por alguns estudiosos como conservador, e por outros, como tático. Diante da idéia corrente, legitimada pela ciência, de que as mulheres deveriam se devotar unicamente ao lar e aos filhos, por serem naturalmente inaptas para o exercício político, e que uma inversão desses valores poderia significar o fim da família, foi necessário que o discurso assumisse um tom não confrontador com a estrutura patriarcal, a fim de angariar apoio dos legisladores estaduais e federais, e também da população.

Hoje, comemoramos a eleição da primeira mulher para a Presidência da República, porém a representatividade feminina na Câmara e no Senado ainda é pequena, considerando a quantidade de mulheres filiadas a partidos políticos. O direito ao voto, conquistado há 77 anos, é uma das mais importantes vitórias no âmbito da cidadania feminina, mas ainda há muito trabalho pela frente.

Autora

Daniela Valverde é historiadora e feminista, apaixonada por História, mulheres e Literatura.