Creches

Creches públicas foram um dos grandes assuntos durante a campanha presidencial de 2010. A Presidenta Dilma Roussef anunciou em setembro a ampliação da rede de creches e pré-escolas. Estamos longe do ideal. Segundo levantamento de dezembro da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, existe um déficit de 100 mil vagas nas creches. Faltam mais de 23.500 vagas nas creches de Curitiba e em todo o Paraná de cada 10 crianças, entre zero e três anos, sete estão fora da rede municipal de ensino. Enquanto em Santa Catarina 34% das 299 mil crianças nessa faixa etária têm acesso à creche – o mais alto índice de atendimento do país –, no Amapá o percentual é de 3,87%. Entre os estados com taxa bruta de matrícula inferior a 10% ainda estão o Pará (5,26%), Amazonas (5,56%), Sergipe (5,65%), o Acre (6,39%), Alagoas (7,16%), Roraima (7,23%), o Maranhão (9,02%) e a Paraíba (9,46%). É visível que a educação infantil ainda não possui sua importância reconhecida.

Entre 2005 e 2009, as matrículas em creches cresceram 34% em todo o país – o total de crianças de 0 a 3 anos com acesso à educação passou de 1,4 milhão para 1,8 milhão. Mas qual a importância de prover creches para a população? Acredite, as creches são fundamentais não apenas para o desenvolvimento da criança, mas também para o desenvolvimento da família, da sociedade e da economia.

No campo da educação, a escola destinada à Educação Infantil possui a função de impulsionar o processo de escolarização de forma lúdica, com a participação das crianças, estimulando a autonomia e o desenvolvimento dentro de uma visão integral, proporcionando o aprendizado de currículos, mas também do cotidiano e da sociedade. As antigas creches que foram no passado organizadas no âmbito da política assistência social devem passar agora para o âmbito da política de educação.

Para a família, a creche é imprescindível, pois significa ter um local para deixar a criança sob cuidados enquanto mães e pais trabalham. A creche é o maior aliado da mãe solteira que precisa trabalhar. A crescente demanda por creches revela uma tendência da família contemporânea a buscar parceiros para conciliar cuidados e educação dos filhos pequenos e o trabalho. O que vemos hoje é que a insuficiência de vagas em creches públicas diante da demanda, ou o elevado custo das creches particulares, não permite, na maioria das vezes, que esse serviço seja escolhido com base em princípios, valores e critérios da família. Sem creches de qualidade fica mais difícil para as pessoas trabalharem, produzirem e fazerem a economia girar.

Imagem: Portal do MEC.

No campo das creches particulares temos a possibilidade de criar novas propostas, mas as empresas privadas não tem olhos para essa questão social. Por que a maioria das grandes empresas particulares não providenciam uma creche no local de trabalho para seus funcionários? Isso significa não apenas prover qualidade de vida, mas também educação e segurança das futuras gerações. Importante notar que não é só no Brasil que isso acontece. Em uma matéria entitulada: As maravilhas dos escritórios de Google e cia., podemos ver que nas novas empresas de internet, cheias de vantagens para os funcionários, as creches não são uma realidade (clique na imagem da matéria para ver o infográfico completo). Apenas o Google tem creche no local de trabalho. O Facebook paga reembolso para crianças menores de 5 anos, nascidas depois que o funcionário entrou na empresa. Nada contra uma parede de escalada ou uma sala de massagem, adoraria ter benefícios como esses, mas por que não pensar em benefícios mais sociais?

Algumas pessoas alegam que não há creches porque nesses locais trabalham mais homens do que mulheres. Pergunto: por que os pais não podem cuidar de seus filhos? Será que pais não gostariam de tirar um momento de descanso dar um pulo na creche e ver como o filho está? Precisamos mudar essa ideia de que a responsabilidade da educação das crianças é papel apenas da mãe. Temos que incentivar que homens frequentem as reuniões escolares e participem ativamente da educação e do cotidiano de seus filhos. Outras pessoas perguntam: mas e as pessoas solteiras? Elas não usufruem da creche. A educação não deve ser responsabilidade única dos pais. Precisa ser integral, com a participação da família, da sociedade e do Estado. Todos temos nossa parcela de responsabilidade em relação as crianças brasileiras.

Respeitar uma criança como cidadão significa o fim de ideologias que a enxergam como um ser menor, que não respeitam seu saber ou suas formas de criação. Garantir o ingresso da grande maioria das crianças na Educação Infantil, principalmente por meio de instituições públicas, é garantir também melhores condições de se construir uma educação de qualidade para todos. Priorizar uma sociedade mais justa e democrática, passa por medidas como a expansão da Educação Infantil e a valorização da formação de profissionais competentes para atuar, não só nessa, mas em todas as outras áreas educacionais.