O barulho rosa de Kaki King

Texto de Barbara Lopes.

Quem vê Kaki King de perto se surpreende com seu tamanho. Em um vídeo, ela conta, bem humorada, que costuma ouvir: “nossa, você é tão baixinha na vida real!”. Isso porque tocando, ela é uma gigante. Sua técnica, com uso do tapping (um maneira mais percursiva de tocar instrumentos de cordas) e diferentes timbres, embasbacou Dave Grohl, dos Foo Fighters, que disse “tem guitarristas bons e tem guitarristas que são bons pra caralho. E tem a Kaki King”; e a revista Rolling Stone americana – que a colocou entre os Novos Deuses da Guitarra, a primeira mulher e a pessoa mais jovem a figurar na lista. Mas não é só isso. Ela também é uma compositora versátil e inteligente, cujas músicas não são apenas exibição da técnica desenvolvida. Ela passeia entre apresentações solo acústicas e shows vibrantes com banda, de sonoridades que lembram a guitarra flamenca ao pós-rock da parceria com John McEntire, do Tortoise.

Kaki King, que está em São Paulo para dois shows no Sesc Belenzinho, neste sábado e domingo (dias 11 e 12 de junho), falou por email sobre sua dupla personalidade e sobre mulheres na música.

Kaki King. Imagem: divulgação.

Seu álbum mais recente é sobre espionagem e a “ideia de viver uma vida dupla”. Você se vê como uma agente dupla, digamos, entre o pop e uma música experimental mais sofisticada, ou entre as apresentações solo e com banda?
Às vezes eu enxergo desse jeito – quando eu estou tocando com uma banda, eu prefiro ficar agitada e suando e que o público se mexa o máximo possível. Quando eu toco sozinha, eu gosto que todo mundo fique sentado quieto, para que cada nota possa ser ouvida. Realmente, dois tipos de personalidade.

Há uma mística em relação a guitarristas e rockstars que é um incentivo para crianças que querem aprender guitarra. Isso influenciou você? Você sentia falta de guitarristas mulheres que pudessem ser um modelo?
Meus primeiros guitar heroes não eram mulheres, necessariamente, mas eu me lembro claramente de Jennifer Batten e seu gigantesco cabelo loiro nos vídeos ao vivo do Michael Jackson quando eu era criança. Eu não sei se ela era o tipo de guitarrista ou de mulher que eu queria ser, mas eu nunca esqueci seu cabelo.

No mesmo assunto, você acha que o cenário para mulheres na música está mudando?
Está sempre mudando. Eu acho que as grandes pop stars femininas estão conquistando, merecidamente, bastante crédito e isso é bom para a música em geral – quando talento é reconhecido e louvado.

Você tem uma música bem conhecida chamada “Pink Noise” (barulho rosa). É um jogo de palavras?
O nome da música é “Playing With Pink Noise”. Alguns amigos meus têm uma banda chamada Pink Noise e um outro amigo meu ia tocar em um show com eles. Eu escrevi um email para esse amigo e disse “ah, entendi, você está tocando com Pink Noise” [que também pode ser entendido como “você está brincando com barulho rosa”, um tipo de ruído]. Eu gostei do trocadilho.