Apurando os tamborins

Texto de Barbara Lopes.

Carnaval e feminismo combinam? Este ano, a Terça-Feira Gorda e o Dia Internacional da Mulher se trombaram no calendário, deixando no ar essa pergunta.

Porque não dá para esquecer o que há de exploração do corpo feminino (principalmente negro) e a transformação de discursos machistas e homofóbicos em letras de música com ares inocentes. Mas esta coincidência pode ser uma oportunidade para levantar a bandeira branca, afinal mulheres (e feministas em particular) também gostam de se divertir. Por isso, separei algumas músicas que conseguem escapar dos estereótipos ofensivos e que trazem uma perspectiva mais favorável para as mulheres. E bora botar nosso bloco na rua!

Ó Abre-Alas. Chiquinha Gonzaga fez abrir alas: no fim do século 19 e começo do século 20, ela se tornou uma compositora consagrada, compôs esta, que é considerada a primeira marchinha de Carnaval, e foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Era feminista, abolicionista e desafiou repetidamente os padrões de sua época.

Pierrô Apaixonado. Noel Rosa e Heitor dos Prazeres brincam com os clássicos personagens da Commedia Dell’Arte. Nesta versão, ao invés de assistir Pierrô e Arlequim brigarem por seu amor, a Colombina cansa da chatice do Pierrô e vai pro botequim.

Chiquita Bacana. A personagem que desafiou as condições climáticas e a moda, que ignorava os papéis sexuais clássicos (não usava vestido nem calção), que morava na Martinica e que era existencialista não podia ficar de fora.

A Filha da Chiquita Bacana. A homenagem de Caetano Veloso à marchinha de Braguinha e Alberto Ribeiro mostra que ser “moça de família” pode ter outros significados. Se a mãe era existencialista, a filha saiu feminista e entrou para o Women’s Liberation Front (não percam o clipe do Caetano com os Trapalhões).