Texto de Danielle Cony.
A última semana foi difícil. A grande mídia divulgou (para não dizer massificou) sem pudor três acontecimentos com forte publicidade e conceitos retrógrados. Eu diria que o backlash está na moda, num modelito retrô-século XII. Minha divagação se dá pela relação entre marketing e o discurso medieval. Em apenas uma semana fomos rechaçados com conceitos ultrapassados em todos os meios de comunicação e inclusive nas redes sociais. Esse fenômeno me causou um certo desconforto. Mas vamos aos acontecimentos:
1º – O casamento real
Paulo Moreira Leite no texto “Que casamento é esse?“, falou muito bem sobre a importância da monarquia e o quanto isso é nocivo para o conceito de igualdade e democracia. Vou um pouco além… O quanto isso é nocivo para o feminismo e para o conceito de igualdade de gênero. Porque é exatamente o que lutamos contra. A idéia de príncipe que salva a (rica) plebéia. A obrigatoriedade do casamento. A consagração da mulher como propriedade ao homem. Não gente, não é celebração do amor… O conceito de amor é recente ao casamento. O casamento é o conceito de posse. E toda a encenação gira em torno disso.
O luxuoso momento foi pago com os impostos dos ingleses. E a massificação da mídia, as fotos e o tapete vermelho. Todo esse glamour, todo esse excesso só posiciona um forte backlash. Só posso dizer que a Inglaterra também possui o seu momento de pão e circo. Interessa encarar a terrível recessão que o país enfrenta? Nada como um casamento real para tirar o foco do que realmente interessa. Alienação é um marketing vantajoso.
2º – A beatificação do Papa João Paulo II
Não esperaram nem os cinco anos para a beatificação do papa. Estão com pressa. A igreja perde cada vez mais fiéis, os escândalos de pedofilia, a ausência de carisma do atual papa, um ex-nazista. A igreja católia perde espaço para ateus e outras religiões. Como lidar com a perda de poder e status quo? Que tal beatificar um papa mais carismático e que ainda persiste na memória das pessoas? Cinco anos? Para que protocolo quando se precisa de fiéis? Segundo matéria da Folha, o último milênio possui o maior número de beatificações. Quando se tem um problema, vamos santificar alguém. Os mortos tem melhor imagem do que a igreja. Ótima estratégia de marketing, não?
3º – A vingança de Obama.
Como disse bem o texto do Alex Castro, o discurso de Obama ao falar em justiça é totalmente contraditório. Justiça seria se Bin Laden fosse julgado e não assassinado. A morte de Osama foi vingança, não justiça. E por um momento mataram o “vilão” sem questionar de fato o que está acontecendo no mundo árabe. Isso aí, Obama, ótima estratégia de publicidade para as eleições para presidente. Sua popularidade anda muito baixa para uma reeileição e nada melhor do que uma vingança para mostrar quem está no poder.
E voltamos a era medieval. Em apenas uma semana. Se eu morasse no Rio de Janeiro no período medieval talvez fosse melhor do que agora. Afinal de contas eu não teria a mídia internacional para me trazer conceitos tão retrógrados de forma tão massiva. Eu estaria pegando um sol e curtindo uma praia não poluída. Mas não estou na era medieval (embora essa semana tenha sido bem difícil de aturar) e como diz o André Dahmer (malvados) no seu excelente quadrinho:
É a era da publicidade cyber-medieval meus caros… A tecnologia e as estratégias de marketing são sem dúvida do século XXI, mas o discurso é do século XII.