Mulher no volante sofre machismo constante

Em períodos de feriados todo mundo pega o seu carro e segue para a estrada. Por esse motivo estive pensando sobre a relação de andar sobre quatro rodas. Num texto que li no blog da Lola me fez pensar com fatos e dados justamente sobre o quanto o trânsito é machista. E por que será?

Primeiro, que essa segmentação de adoração por carros começa pela a infância. Dificilmente vejo pais darem carrinhos para suas filhas. Não há uma construção femina em relação a direção. Mulheres não são estimuladas a dirigir. Os pais não dão um carro para as filhas quando fazem dezoito anos, mas aos filhos isso é estimulado. Assim como mecânica e idolatração de carros. Carros é o símbolo maior da masculinidade. E eu acho isso muito triste. Porque carro é o cancêr do nosso planeta. E acho que isso não deveria ser estimulado para ninguém. Nem para homens e nem para mulheres. O mundo precisa mesmo é de transporte público. Transporte para pessoas e não cidades construídas para carros…

Mas essa realidade de transporte coletivo ainda está bem longe da consciência ecológica e até da logística de nossas cidades. Aqui no Rio de Janeiro você precisa realmente ser um tanto suicida para andar de ônibus. Os motoristas daqui dirigem de forma totalmente ofensiva, jogam os ônibus nas calçadas, não param nos pontos que deveriam, correm demasiadamente, freiam bruscamente. Imagine andar com uma criança sobre essas condições. É um horror!!! E eu plenamente acredito que isso está diretamente ligado ao machismo sobre quatro-rodas. Pegar o seu carro e jogá-lo sobre as pessoas, buzinar enquanto pedestres atravessam na faixa, “passar por cima” é uma atitude altamente ofensiva, de poder, de velocidade. E não é a toa que se identifica com o símbolo da masculinidade.

Eis que uma empresa de ônibus aqui do Rio resolveu contratar mulheres para dirigir sua frota. Eu tenho a impressão que isso ocorreu por uma carência de profissional do mercado e pelos baixos salários oferecidos e não porque eles estão dispostos a diminuir a desigualdade. Mas de qualquer forma é muito bom ver mulheres exercendo atividades predominantemente masculinas. E do pouco que vi, encarei muito machismo. Imagino como não deve ser para elas…

Foto de National Library of Scotland no Flickr em CC.

Estava eu no ônibus, e como a motorista era nova, esta não parou na parada de ônibus correta. Eu entendo que é um certo desconforto, mas não é sua culpa de não ter sido treinada no itinerário da linha. Eu desci do ônibus e uma mulher atrás de mim me disse:

– Tinha que ser mulher!

Eu respirei fundo (porque eu realmente me senti muito ofendida) e respondi:

– O fato dela não ter sido treinada pela a empresa de ônibus não está relacionado com o fato dela ser mulher. Uma mulher é plenamente capaz de exercer qualquer atividade de trabalho que um homem faz!

Obviamente a passageira não esperava essa minha reação e saiu de perto. Eu fiquei realmente chateada, porque eu sei exatamente o que é escolher uma profissão “masculina” e sofrer preconceito com isso. Vi outras duas vezes situações esquisitas sobre as motoristas.

Estava no ponto de ônibus esperando pela a minha linha quando um senhor fez sinal e a motorista não parou. O senhor disse:

– Tinha que ser mulher!

E eu respondi:

– Não senhor, ela não parou porque aqui não é a parada dessa linha. Atravesse a rua e pegue do outro lado. Ela só está seguindo as regras da companhia de transportes públicos e desafogando o trânsito. Ela está fazendo a coisa certa!

Em uma outra situação uma senhora veio perguntar a motorista porque ela estava dirigindo o ônibus. E a motorista ficou se justificando. Gostei da parte onde ela disse que as mulheres podem fazer tudo o que elas querem. Fiquei pensando o quanto essa trabalhadora não enfrenta de preconceito todos os dias e o quanto ela também é feminista.

O fato é que o trânsito das grandes cidades é problemático. Em parte devemos a concentração excessiva da frota e poucas políticas públicas para o transporte coletivo. E em parte disso devemos ao machismo e toda essa cultura de força e poder que o carro representa. E sim, mulheres podem dirigir. E muito bem por sinal. Afinal, quando se vai fazer um seguro pagamos muito menos porque dirigimos de forma segura e solidária. Por que será?