Mamãe, quero ser famosa, vou virar presidenta!

No texto de ontem a Luka falou da necessidade de aprofundar o debate sobre a Reforma Política¹, para qualificar a nossa democracia de modo a torná-la mais justa e ampla. Inspirada pelas reflexões dela eu proponho mais uma questão sobre política: como falar em democracia, sem falar em mídia? E como as mulheres da política são vistas pelas lentes dos(as) jornalistas?²

Menina de cinco anos que virou símbolo da insatisfação com o regime militar (1964-1985) após ser fotografada rejeitando o cumprimento do então presidente João Figueiredo. Imagem de Guinaldo Nicolaevsky.

Os meios de comunicação estão no centro das disputas de poder das democracias contemporâneas, afinal, mídia é lugar de prestígio. Ser um(a) político(a) famoso(a), com grandes chances de ter sucesso eleitoral, depende também de aparecer bastante nos jornais, ter uma imagem positiva e falar bem.

É um desafio sentido pelas mulheres o tempo todo. Elas estão sendo julgadas pelos olhos atentos dos meios de comunicação pelo simples fato de serem mulheres, e, portanto, terem que responder a uma série de expectativas das outras pessoas em relação à forma como devem se comportar.

As mulheres enfrentam dificuldades para lidar com jornalistas, muitas vezes interessados(as) nas suas vidas pessoais, nas roupas que elas vestem ou na capacidade delas de estar em um meio tão masculinizado sem deixar de ser femininas.

O estilo de Gleisi Hoffman. Imagem: Zuleika Souza/ CB/D.A Press

O fato de termos mais mulheres no alto escalão do governo deve mudar um pouco essa lógica (tenham esperança!), porque impõe para todo mundo a tarefa de olhar para elas não como figuras de menor importância, que viveriam à sombra de padrinhos/maridos/pais, mas sim como políticas, figuras públicas, pessoas que não importam tanto pelo que pensam ou acreditam, mas pela forma como agem efetivamente. Isso significa que a política ficará mais feminista? Não necessariamente, mulheres reproduzem discursos machistas o tempo todo. Só que, com certeza, mal não há de fazer.

"As ministras super poderosas". Reportagem de Vera Magalhães/Folha.com, 20/06/2011. Acesso em 19/07/2011.

 No seu discurso de posse a Dilma disse: “Eu gostaria muito que os pais e as mães das meninas pudessem olhar hoje nos olhos delas e dizer: ‘Sim, a mulher pode’”. Com mais mulheres na política, sendo vistas não como mulheres apenas, mas como nossas representantes (com todos os deveres e obrigações que isso carrega), vai chegar o dia em que não sejam os pais que digam às filhas que “elas podem” e sim que elas mesmas reivindiquem a escolha de ser presidenta do Brasil. E que isso seja importante para a nossa democracia, porque elas tão lá, o tempo todo provando que são iguais.

¹ Leiam também o post da Bárbara Lopes sobre a Reforma Política.

² Sobre o tema das mulheres na mídia, mas com o enfoque do marco regulatório,  tem o post da Amanda Vieira. E eu super recomendo esse texto linkado, publicado no Maria Frô.

³ Se você tem interesse acadêmico no assunto, sugiro e leitura do texto “Gênero e política no noticiário das revistas semanais brasileiras:ausências e estereótipos” (2010), da professora da UnB Flávia Biroli, publicado na revista Cadernos Pagu e disponível para download no Scielo.

Charge de Cláudio de Oliveira, na edição de 02/01/2011 no jornal "Agora São Paulo".