Hollywood: cadê o feminismo daqui?

No post de hoje resolvi trazer para vocês alguns vídeos feitos pela Anita Sarkeesian do Feminist Frequency – conversations with pop culture. Conheci esses vídeos através de um amigo que sabe da minha paixão por cinema e, como não poderia deixar de ser, do meu interesse pelo feminismo. Para mim, tem sido um ótimo canal de reflexão e ideias!

Nos três vídeos a seguir, sobre os quais irei discorrer muito brevemente, Anita discute estereótipos de gênero, mas também de raça e sexualidade, em filmes produzidos por Hollywood. Ela critica essa atenção excessiva no homem, “geralmente branco e definitivamente heterossexual”, e em tudo o que está relacionado ao universo masculino. Essa centralidade tende a deixar as mulheres em segundo plano e reforça estereótipos de que, por exemplo, mulheres estão sempre preocupadas apenas em fazer compras, apaixonar-se, encontrar o cara perfeito, ser bonita e sexy etc. Ou seja, as mulheres acabam não sendo representadas como “seres humanos completos”.

Anita demonstra bastante desenvoltura nos vídeos e chama nossa atenção para fatos e padrões que, de tão comuns, às vezes nem refletimos mais sobre eles. E é bem sarcástica em alguns momentos! Assim, a intenção dela não consiste em boicotar filmes que reforçam esses estereótipos e nem que paremos de gostar deles, mas que tenhamos outro ponto-de-vista sobre certos padrões que se repetem com frequência nos filmes de Hollywood e que isso seja transformado para proporcionar uma melhor igualdade de gênero no cinema. Mesmo que não concordemos com todas as opiniões de Anita, são vídeos que valem a pena pela reflexão que propõem.

Para ver os vídeos com legendas em português: clique no play. Vai aparecer na barra inferior do Youtube, no lado direito, o símbolo “CC”. Clique nele e escolha “portuguese (Brazil”). O “CC” tem que estar vermelho para que a legenda funcione; se quiser ver os vídeos sem legenda é só clicar no “CC” e deixá-lo cinza/desligado.

Women’s Stories, Movies and the Oscars

Neste vídeo, Anita analisa os filmes que ganharam o Oscar de melhor filme nos últimos 50 anos e constata que a vasta maioria deles fala sobre homens, ou seja, a atenção recai sobre os homens, nas estórias dos homens, nas coisas que os homens fazem e nas coisas que os homens não fazem. As estatísticas comprovam: dos 50 filmes analisados, apenas quatro desenvolvem estórias centradas na vida de mulheres. Para ela, uma das principais razões de Hollywood continuar fazendo filmes sobre homens é porque vivemos numa “male centered society” e uma forma de observar essa centralidade masculina não é só ver os filmes que estão sendo feitos, mas aqueles que são mais celebrados e homenageados, como os que ganham o Oscar, por exemplo.

Tropes vs. Women: #1 The Manic Pixie Dream Girl

Primeiramente, Anita explica que “trope é um padrão comum numa estória ou um atributo reconhecível num personagem que transmite informação ao público. Um trope se torna um clichê quando é usado em excesso. Lamentavelmente, alguns desses tropes perpetuam com frequência estereótipos ofensivos”. Um desses estereótipos é a chamada “the manic pixie dream girl”, algo como “a garota maníaca, fadinha mágica, dos sonhos”. Termo cunhado por Nathan Rabin, a “manic pixie dream girl” é ”aquela criatura maravilhosa e cheia de energia, superficial, cinematográfica que existe somente na imaginações febris de escritores-diretores sensíveis e que ensina jovens homens emotivos a abraçar a vida e seus infinitos mistérios e aventuras”.

Anita fala, especificamente, dos filmes Tudo acontece em Elizabethtown, (500) dias com ela e A Hora de Voltar. Nesses filmes, ela argumenta que os homens são vistos como os protetores, os criadores, os heróis, os inventores, mas, às vezes, a pressão do mundo inteiro os coloca para baixo. Neste momento, aparece a “manic pixie dream girl” para ajudá-los a aproveitar a vida; elas irão auxiliar esses heróis levando cor a suas vidas, para que eles sejam novamente felizes membros ativos da sociedade. Tais mulheres necessitam ir lá “consertar” esses homens, para que eles possam, então, ir “consertar” o mundo.

A “manic pixie dream girl”, geralmente, não tem uma vida, não tem uma história, não tem família, quase nada se sabe sobre seu trabalho, mas ela tem o dom de inspirar os homens. Por séculos, pintores, músicos, escritores, diretores de cinema, artistas de todos os tipos citam mulheres como inspiração para suas brilhantes obras-primas. Para Anita, nós, mulheres, não estamos aqui para a inspiração de homens, celebração ou “whatever else”, pois nós também somos musicistas, artistas, escritoras, ou seja, somos seres humanos completos, com nossos problemas e interesses e nosso próprio esforço brilhante e criativo. Portanto, os escritores de Hollywood deveriam parar de nos usar como suas musas e começar a nos representar como pessoas reais.

Tropes vs. Women: #3 The Smurfette Principle

Anita começa com uma pergunta: “o que A Origem, Transformers e Os Muppets têm em comum?”. Ela diz que todos eles sofrem de um trope que se chama “o princípio Smurfette”.

“O princípio Smurfette é a tendência de obras de ficção a terem exatamente uma fêmea entre um conjunto de personagens masculinos, apesar do fato de que cerca de metade da raça humana é do sexo feminino. A menos que um show seja propositadamente destinado a um público feminino, os personagens principais tendem a ser desproporcionalmente do sexo masculino” (Tropos TV). Pois é, Anita comenta a existência da Smurfette, a única Smurf fêmea dentre toda a comunidade dos Smurfs, mas também dá outros exemplos, como a Mamãe-canguru ser a única fêmea da animação Ursinho Pooh, a Piggy ser a única Muppet fêmea ou a Penny ser a única mulher com certo protagonismo no seriado The Big Bang Theory. E Anita não deixa de notar que, na maioria desses filmes, animações e seriados, a mulher é representada como sexy ou, em bom português, a “gostosona”. Nas palavras de Katha Pollitt, “meninos definem o grupo, sua estória e seu código de valores. Meninas existem apenas em relação aos meninos”.

Segundo Anita, há muitos filmes que fingem ser multiculturais e diferentes, mas, na prática, não estão mudando nada substancialmente. Deste modo, ela dá algumas dicas para os escritores de Hollywood no final do vídeo, afirmando que, sim, é possível haver mais de uma mulher no script! E ela fala que há um teste simples para fazer quando se está escrevendo um script: “Meu filme tem mais de uma mulher no elenco principal?”. “É isso aí. Esse é o teste inteiro!”.

Ela ainda diz que, se a resposta for “sim” (no caso de haver, por exemplo, duas mulheres), então temos que ver, ainda, se essas duas mulheres aparecem conversando sobre outras coisas que não apenas homens. Se “sim”, então podemos começar a falar de personagens femininas completamente desenvolvidas.

E você, já foi ver Smufs 3D no cinema?

La la la-la la la
Sing a happy song
La la la-la la la
Smurf your whole day long…