Aborto = arrependimento?

Eu fico meio chocada quando vejo ou leio uma reportagem sobre aborto porque sempre sempre SEMPRE trazem depoimentos de mulheres relatando o quanto sofreram para tomar uma decisão, o quanto foi difícil, e – principalmente – o quanto sofreram depois e sofrem até hoje pensando na vida que não geraram, no bebê que não tiveram. Mesmom veículos de comunicação que teoricamente tentam ser imparciais. A idéia de arrependimento está sempre vinculada à idéia do aborto.

Acha que pode fazer o que quiser com seu corpo? Pense novamente.
Fonte: Bay of Fundie

Eu discordo fortemente dessa falsa impressão de que todo mundo que aborta se arrepende depois. Assim como discordo que toda mulher queira ser mãe. Porque, né, eu não quero.

Uma amiga, aos 16 anos, engravidou. Como era uma amiga muito próxima, acompanhei de perto a história. Ela já tinha conversado algumas vezes com o então-namorado que caso um incidente acontecesse, ela não queria nem conversar sobre o assunto para não ter second thoughts. Já tinha tudo meio
que planejado, assim que ele soubesse de uma possível gravidez, já era pra providenciar o citotec e já fazer o “procedimento”, sem muito tempo pra nada, sem pedir conselho pra ninguém.

Uma hora aconteceu né.
Pegaram o exame juntos, e ele já foi encontrar os “contatos” dele. Voltou no dia seguinte com as pílulas. Ela fez o procedimento e depoi, segundo ela, doeu muito, teve cólicas monstruosas, sangrou bastante, foi pro hospital, falou que as dores eram cólicas menstruais, o médico injetou Buscopan, a dor passou e pronto.

Na semana seguinte ela foi à ginecologista para ver se estava tudo bem, contou do ocorrido, a médica fez ultrassom pra ver se precisava de curetagem e graças à deusa estava tudo OK. Nunca mais se falou no assunto. E ela nunca, nunca se arrependeu, nem por um segundo.

E essa história me tocou tanto simplesmente porque eu teria feito exatamente a mesma coisa se isso acontecesse comigo. Até porque na época eu também tinha um namoradinho “firme” e sempre cogitava a hipótese de o mesmo acontecer comigo.

A moral é: eu não sou um monstro, eu não sou insensível, gente, eu choro até com propaganda de TV, choro de ver bichinho na rua, to sempre empatizando com os problemas dos outros. Mas eu nunca tive essa visão de aborto como assassinato. Até hoje, mesmo tendo 30 aninhos na cara, vida estável (especialmente a financeira) eu ainda acho que um filho não é pra mim. Só que a gente sempre escuta os argumentos de que engravida quem quer, porque hoje em dia são tantos os métodos contraceptivos, não é minha gente? Maaaasss ainda assim, a gente pode engravidar, e pode não querer, e não dá pra julgar. E sei que teria a mesma segurança que a minha amiga teve para fazer e não olhar para trás, tendo a certeza de que um filho seria a pior coisa que pode acontecer na minha vida nesse e em qualquer momento.

O meu maior problema com essa decisão tão forte e polêmica é justamente o ódio que desperto em pessoas que tem o tal do institno materno. Um dia, numa conversa casual há mais ou menos 2 meses, eu comentei entre amigas sobre a minha total falta de vontade de abrir mão da minha vida para ter um filho. E as três outras pessoas da conversa super doidas para engravidar. Não sei porque fui burra o suficiente para dizer que se descobrisse hoje que estava grávida, não pensaria duas vezes… Além das repreensões AOS BERROS (j-u-r-o) ainda perdi uma amiga, que até hoje simplesmente não vai mais com a minha cara. No dia ela disse, com muita mágoa, que era um absurdo tanta gente querer engravidar e não conseguir (ela inclusive, que está tentando há muito tempo) e eu, fértil e saudável e blablablawhiskassachet desperdiçar a chance de ser mãe. Huh? What?

Pois é. Isso ofendeu ela profundamente. E desde então ela mal conversa comigo e mal olha na minha cara. Porque, né, é muito difícil aceitar que as pessoas tenham vontades e prioridades diferentes das nossas.

O fato de ser pró-escolha não me faz ser anti-maternidade. E isso que é difícil das pessoas entenderem. EU não quero filho PRA MIM, mas olha só – surprise!!! – sou super a favor que você tenha um filho pra você, se você quiser e tal. Acho interessante eu ser capaz de respeitar as deecisões de todo mundo porém ninguém (ou poucas pessoas) conseguir respeitar a minha.