Essa semana, Leila Lopes, Miss Angola foi coroada Miss Universo 2011. Ela é a 4° negra que venceu o concurso. Em 1977, Janelle Comissioning venceu representando Trinidad Tobago. Em 1998, Wendy Fitzwillian também venceu por Trinidad e Tobago. E em 1999, a coroada foi Miss Botsuana, Mpule Kwelagobe. Concursos de Miss são representações de uma cultura que enxerga as mulheres apenas por sua beleza e juventude. Porém, em uma sociedade racista como a nossa, ter uma Miss Universo Negra pode ser um fator positivo para auto-estima de meninas negras.
O programa REconhecer é uma iniciativa da ONG Estimativa com vídeos sobre temas voltados para mulheres negras. A descrição do vídeo nos diz:
REconhecer – é descortinar o passado e redefinir o futuro. O objetivo do programa REconhecer é evidenciar a diversidade do universo feminino, geralmente apresentado de maneira reducionista e unilateral. O REconhecer é um jeito diferente de valorizar as heranças africanas: a partir da nossa voz, da nossa cara e da nossa escrita!
Em uma entrevista, Jana Guinon, coordenadora executiva da ONG Estimativa, fala um pouco mais sobre o quais os objetivos do projeto e quem são as mulheres que o buscam:
Como você define a Estimativa hoje?
A Estimativa hoje é e foi desde o início a luta pela visibilidade da mulher negra. Essa mulher que existe, que contribui, que colabora para a construção de uma sociedade melhor, mas que não é vista, não é reconhecida. Então, isso vem do trabalho de muitas ativistas anteriores a nós e que hoje se mantém atual. A situação melhorou, porque dizer que não mudou nada seria uma visão pessimista. Mas, temos consciência de que ainda temos muito trabalho a fazer. Continue lendo em Eu estou com uma esperança enorme dentro de mim.

De acordo com Charô, blogueira feminista que compartilhou o vídeo conosco:
Fala-se sobre cores, tranças, racismo, força, etc. Gosto muito dos comentários sobre as candaces e Lelia Gongalez. Sobretudo sobre a questão dos cabelos. Quando me tornei negra a primeira coisa que fiz foi parar de alisar o cabelo. Passado os anos 70, ainda é fundamental que nós negras possamos conhecer e adotar a estética negra.
Segundo Luana Diana, também do nosso grupo, a expressão, tornar-se negra é uma alusão ao livro “Tornar-se negro”, de Neusa Santos Souza:
O livro trata da construção de nossa identidade, que é envolta à constante negação de nossa alteridade. Eis o prefácio do livro: “Saber-se negro é viver a experiência de ter sido violentado de forma constante, contínua e cruel, pela dupla injunção de encarnar o corpo e os ideiais do Ego do sujeito branco e de recusar, negar e anular a presença do seu corpo negro”. Então, quando somos capazes de não mais desejar o corpo branco, que é tido como ideal, nos “tornarmos negr@s”. Passamos a nos orgulhar do nosso pertencimento racial! E isso pode ser expresso através da militância, do corte ou estilo de cabelo, da volarização de referências negras. E como eu já disse aqui, este é um processo extremamente difícil.