Autogestão e Feminismo

No 1º Encontro Nacional de Blogueiras Feministas, discutimos algumas estratégias internas do grupo, levantamos desafios, quebramos a cabeça pra bolar novos projetos e formas de ação. Entre os desafios que pessoalmente fiz questão de levantar, está a experiência da autogestão, tão libertária e tão rara no cotidiano da maioria das pessoas (não só deste grupo, mas também fora dele).

Autogestão é quando um grupo gerencia, gestiona, gere horizontalmente a si mesmo. Quando as decisões são tomadas coletivamente sem dispositivos de representação ou de assembleias em modelos engessados com mediadores. Todas falam, todas mediam-se umas às outras. É assim que o Blogueiras Feministas tem funcionado, é assim que pretendemos por enquanto funcionar.

 Esse modelo de organização interna traz, porém, alguns desafios. Geralmente a participação no Blogueiras é a primeira experiência de autogestão na vida das meninas e meninos membros do grupo. Acostumadas com espaços onde pessoas “eleitas”, “mais antigas”, “coordenadores”, etc. tomam decisões e comunicam aos demais, ou então a espaços onde um grupo delibera, outro grupo executa, geralmente chega-se em nossa mailing list com a sensação de ter perdido algo, de ter pego o bonde andando.

beach women circle. Foto de senorhorst jahnsen no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Olha, eu estou no grupo desde o primeiro dia e também tive essa sensação. 🙂

Isto se deve em parte ao fato de que nunca houve e não há uma estrutura rígida do grupo. É tudo flexível, maleável e aberto a ser disputado por quem chega e por quem já estava ali. Não há uma presidente, nem representantes eleitas, não há comissão executiva ou coordenação. Todas e cada uma de nós tem o mesmo peso nas decisões coletivas. O grupo é o que as membras ativas fazem dele – e isso pode variar bastante.

Outro desafio enfrentado principalmente por quem chega é uma certa confusão sobre limites de sua agência no grupo: “Será que eu posso falar? Será que serei ouvida? Posso propor uma nova pauta? Uma ação coletiva? Como faço isso? Tenho esse direito, eu que acabei de me descobrir feminista? Não serei engolida pelas mais antigas, que manjam muito mais que eu de feminismo?”.

O princípio básico da agência em grupos autogestionados é: “quem deu a ideia faz”. Claro que não limita-se a dar ideias quando estamos fazendo algo, mas não pode-se esperar ali que todas se envolvam e realizem as ideias de uma se esta mesma uma não der ao menos o pontapé inicial. Vale lembrar que algumas ideias pegam mais, outras menos, e nem por isso essas iniciativas deixam de ser igualmente importantes para o ativismo coletivo.

Felizmente temos construído no grupo um clima bacana de discussões, onde tudo é levado bem a sério, desde as dúvidas, confusões, inexperiências, até as questões pessoais de cada uma. Somos umas às outras mais do que um grupo de discussão – um grupo de apoio. Mas um grupo de apoio crítico, o que pode deixar bem frustradas aquelas que procuram aprovação 100% do tempo e amor materno na lista. O truque aqui é aprender devagar que discutimos opiniões, atitudes e pressupostos, e não pessoas. Não levar as críticas como pessoais, direcionadas a você, mas sim a algo que você disse, a uma opinião expressada ou comportamento relatado. Iguais, todas temos o direito de expressar-nos e também, com isto, o direito de receber críticas por isso. Positivas e negativas mas quase sempre construtivas.

Para terminar, gostaria de encorajar aquelas que chegam a atuarem, agirem no grupo. Proponham ações, expressem suas opiniões sem medo, repitam argumentos usados se necessário para reforçar suas vozes, escrevam e reescrevam. Engajem-se. Estamos aqui umas pelas outras, por que não estaríamos aí pra vocês também?

A quem interessar, para participar do nosso grupo de discussão por email, basta solicitarem inscrição em http://groups.google.com/group/blogueirasfeministas !