Meninas e Maquiagem

Esse lance da maquiagem é uma coisa que vem me incomodando há muito tempo. E eu praticamente não sei porque ainda não escrevi sobre isso. Hoje é o dia, então.

Little Misses
Little Miss Flagler County 8-11. Daviana Campbell & Her Court. Vencedoras de um concurso de beleza infantil americano em 2010.

Eu nunca fui muito de maquiagem. Quando era adolescente (jovem-adulta), e extremamente idiota, fútil e cretina, eu usava quase todos os dias. Porque, né, eu fazia Direito e tinha que ser sempre muito fashion, muito no salto, muito advogada-mirim. Daí um belo dia dinheiro passou a significar nada para mim. E foi bem no dia que decidi que ia ser professora pra sempre. Porque quando a gente decide ser professora, isso tem que vir junto com a morte de muitas das nossas ambições. E foi no dia que o meu sonho de ser milionária morreu que eu assumi para mim e para o mundo que a sala de aula é o meu lar. E só a partir desse dia eu pude ser feliz de verdade. Ok, divago.

Depois que saiu do meu ombro a pressão de ser/parecer dondoca, tudo mudou. O salto virou rasteira e sapatilha. A chapinha deixou de ser obrigação diária. E desde aquele dia, tenho virado mais e mais hippie. E amando muito esse “novo” lifestyle, mais livre, mais sussi, mais descontraído.

E nessa eu deixei de ser vaidosa. Aí é que está a pegadinha. Eu NUNCA deixei de ser vaidosa. Eu só deixei de ser vaidosa do jeito que as pessoas esperam que eu seja. E é aí que a casa cai né. Porque a primeira pessoa que sempre pegou muito no meu pé foi justamente a minha mãe. Que nunca cansou de repetir que eu era mais bonita antes. Que eu me amava mais. Que agora eu sou relaxada.

E desde quando ser relaxada é xingamento né? Tem gente que paga uma nota para fazer massagem e “relaxar”. hehe E daí eu sou relaxada de graça e isso tá errado.

Ano passado, dando aula da rede pública depois de anos isolada em salas de aula com adultos, comecei a perceber que tá acontecendo uma transformação horrível nas meninas. Que elas se maquiam demais, todos os dias, e o tempo inteiro. Que isso começa cada vez mais cedo, no terceiro ou quarto anos. Que na hora do recreio elas vão ao banheiro para retocar rímel. Que uma aluna minha uma vez acampou comigo e ela acordava e passava lápis no olho, antes mesmo de lavar a cara ou escovar os dentes. Que um dia num boia-cross uma escoteira veio toda preocupada perguntar se a água tinha borrado o rímel dela.

E eu pensei: que porra é essa?

Um dia no MSN estava conversando com outra aluna e comentei sobre maquiagem. Ela disse que me viu no reveillon e me achou linda, pq eu tava maquiada. E eu fico puta com essa idéia de que as pessoas só são bonitas quando se mascaram e viram outras pessoas. Eu comentei que não uso maquiagem mesmo, e me acho bonita mesmo assim, com a cara lavada e inchada de manhã cedo. E comecei a questionar ela. Sobre por que ela se maquiava e talz. Ela respondeu que é feia sem maquiagem. Que quando se maquia, se sente uma estrela. Agora vai desconstruir isso. Não dá. Não numa conversa idiota via MSN.

E a única conclusão que eu consigo chegar é que esse mundo tá perdido mesmo. Porque nossas meninas crescem já se achando feias, e imperfeitas. E aos 12 anos estão surtando por causa de celulite. E antes disso provavelmente já estão raspando as pernas. Acho isso um crime – mesmo com as adultas. Pior ainda com crianças. É a força da mídia né. Porque nos Estados Unidos o Wal-Mart já tá vendendo maquiagem com agentes anti-envelhecimento para crianças de 8 anos. Sim. É verdade.

E daí eu esbarro num vídeo do youtube com uma menina de no máximo 12 anos dando dicas de maquiagem. Com diversos macetes para cobrir “imperfeições”. Ela acha que tem muita olheira e tal. E ela manja pacas de maquiagem – faz coisas que eu nunca nem imaginei que fosse possível fazer no rosto. Tentei encontrar o vídeo pra linkar aqui e não achei mais.

Só sei que eu tenho vontade de chorar. Ou de quebrar o computador. Ou de xingar muito no tuiter. Porque tem alguma coisa de muito errado nisso, e eu devo viver em outro mundo mesmo, com tanta gente achando isso normal. E eu vejo essas propagandas de depila isso, tira aquilo, creme pra isso, protetor praquilo, sabonete pra piriquita e tantas mil coisas que obrigam uma mulher a gastar praticamente todo o seu salário com idiotices – talvez pra gastar menos em livros né?