A música sempre foi uma das principais manifestações culturais do Brasil. Temos grandes compositores, grandes músicos e ritmistas. Temos grandes cantoras, mas dentro da história da música brasileira, não é tão comum encontrar compositoras. Normalmente há intérpretes muito famosas desde a Carmem Miranda, passando pela tropicália com a Gal Costa e Maria Bethânia, emocionando-se com a bossa de Elis Regina até o Rock de Cassia Eller. Todas possuem (ou possuíram) um grande talento e são importantes para a história da música brasileira.

Mas quero falar aqui de uma nova geração. Da geração faça você mesmo. Com a falência das gravadoras e a democratização da tecnologia, fazer música ficou mais fácil e (ironicamente) mais artesanal. Enquanto as gravadoras desistiram do processo de descobrir novos talentos e investiram apenas numa fórmula específica e rentável (o que foi o início de sua falência, pois essa é uma indústria baseada na criatividade e não no padrão) os músicos por sua vez ganharam espaço para produzir suas músicas de forma caseira com recursos tecnológicos relativamente baratos. A indústria perdeu, mas os músicos ampliaram seu espaço e uma nova gama de artistas aparecem todos os dias nessa geração pós-indústria-fonográfica.
A grande questão da música está na forma em que se consome música. Se antes dependíamos das rádios para nos dizer o que havia de novo, agora temos a internet, buscas e websites especializados em música, com todo o tipo de gênero, formato e som. Deixamos de ser um consumidor passivo para ser um consumidor ativo. Você agora é responsável por pesquisar, procurar e consumir música. Por um lado isso torna o processo cultural muito mais interessante. Por outro, nem todos estão adaptados a essa incessante busca por informação. Então por isso, determinados formatos comerciais ainda resistem no mar de opções de “mp3”.
O que acho interessante ressaltar é que nessa nova geração, ao contrário das gerações anteriores, as mulheres também são responsáveis pela composição, ou seja, elas são responsáveis pelo processo criativo e também pela a própria administração da carreira. Porque para se lançar de forma independente você precisa da ajuda, colaboração, de consciência e gestão da sua própria carreira. A dependência do produtor musical se extingue ao modelo gravadora, mas essa responsabilidade, o gerenciamento e a estratégia d@ músic@ deve ser feita por el@ mesm@. Não é a toa que o grande momento é o resgate de bandas-orquestras (ou big bands), como Osquestra Imperial, Orquestra Voadora, Móveis Coloniais de Acajú e Osquestra Brasileira de Música Jamaicana. Dentro desses grupos há um trabalho colaborativo onde a gestão da banda é feita por todos. Esse é o novo modelo para a indústria criativa e a música é a percursora desse movimento.
É importante ressaltar, que uma vez o processo criativo seja de autonomia feminina, o resultado acarretará numa linguagem, numa perspectiva e numa sonoridade feminina. E isso é vital como voz democrática num processo cultural.
Cito agora exemplos de algumas novas mulheres da música brasileira, inseridas nesse novo formato e contexto produtivo:
– Céu: talentosa e experimental. Mistura ritmos distintos e possui uma voz belíssima.
Links: myspace, web site
– Thalma de Freitas: tem um estilo único. Com uma belíssima voz, experimenta sons brasileiros e africanos. É também uma das vocalistas da Orquestra Imperial.
Links: myspace, blog
– Karina Buhr: Com seu lindo sotaque Pernambucano, sua música possui muita personalidade e autenticidade. Mistura ritmos eletrônicos e rock. Vale a pena conferir.
Links: myspace, web site
– Bárbara Eugênia: Surf music, mpb e rock, fazem parte do mix de referências de Bárbara Eugênia. Seu som despretensioso é divertido, leve e as vezes intenso.
Links: MySpace, web site
– Tulipa Ruiz: uma das mais talentosas cantoras e compositoras dessa nova geração, Tulipa Ruiz fala de questões femininas como é a transformação de uma menina em mulher, ou sobre seus relacionamentos amorosos sobre uma perspectiva feminina. É delicioso ouvi-la.
Links: MySpace, blog
Então quando alguém reclamar sobre “a música de hoje não presta”, apresente nov@s autor@s. Tem muita coisa boa sendo feita por aí.