Aquele dia junto ao mar

A literatura lésbica é um segmento desprestigiado pelo mercado editorial.

A Editora Malagueta, fundada por Hanna Korich e Laura Bacellar, tem buscado preencher esta lacuna, promovendo a publicação de textos de autoria lésbica, que versem sobre o universo das relações amorosas e sexuais entre mulheres.

Capa do Livro

A autora de Aquele dia junto ao mar, campeão de vendas da Editora, começou sua carreira escrevendo em um blog pessoal. Karina dias, pseudônimo da jovem escritora carioca, é dona de uma narrativa leve, despretensiosa e bem humorada. Um aspecto bem interessante da sua literatura, contudo, é o erotismo que permeia a narrativa.  Karina é uma das autoras que ousam escrever abertamente sobre sexo, assunto ainda estigmatizado como “proibido para mocinhas’”. Isso porque existe uma idéia equivocada a respeito do desinteresse feminino por sexo. É importante destacar a importância do conteúdo erótico lésbico da narrativa para a visibilidade das mulheres homossexuais.

A trama, que se passa no Rio de Janeiro, é protagonizada por Duda, estudante de Educação Física, e Gabriela, garota de programa. A narrativa se desenrola em torno das dificuldades enfrentadas pelas personagens para ficarem juntas, e, ainda que um tanto previsível, é animada pelas interessantes cenas de sexo entre as duas. O maior entrave da relação é o fato de Gabriela, enquanto garota de programa, não ter lugar no contexto social em que vive Duda, família de classe média e valores cristãos.

Nesse contexto, a prostituição é vista como mazela social, que traz prejuízo para as famílias, e ainda vem atrelada a problemas como o uso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis e violência. A autora, contudo, não deixa claro o objetivo de questionar as circunstâncias de opressão que levaram Gabriela a se prostituir. Não identifiquei, ainda, uma intenção da autora em questionar os modelos impostos de feminilidade, que encontramos representados em diversas personagens. Além disso, a construção da personagem Gabriela é baseada nos estereótipos de santa e puta, e essa estigmatização não chega a ser objeto de discussão.

Contudo é importante ressaltar a importância de termos, a cada dia, mais publicações com temática lésbica chegando às prateleiras, visto que estes são tempos de luta pelos direitos das mulheres homossexuais e pelo fim do preconceito. Dentro deste contexto, a iniciativa da Editora Malagueta em focar exclusivamente o público lésbico é uma estratégia interessante, visto que dentro do próprio movimento LGBT ainda existem impasses quando se trata de incluir pautas que atendam às reivindicações das mulheres.

Para conhecer mais a Malagueta, confira o site e o canal As Brejeiras no Youtube.

Referência: Aquele Dia Junto ao Mar. Editora Brejeira Malagueta, 2011.