Nossas escolhas e aquilo que tentam “escolher” para a gente

Ontem um amigo um tanto quanto descontente com seus relacionamentos me fez a seguinte pergunta:

“Cláudia, o que as mulheres querem, afinal? O que você diria sendo feminista?”

Bem…  Eu respondi que não tinha como falar por todas as mulheres. Ainda que muitas de nós tenhamos opiniões parecidas sobre determinados assuntos, nossos anseios dificilmente são os mesmos. Até  entre nós feministas há diferentes linhas de pensamento e de causas a serem defendidas. E fiquei bem perdida com esse questionamento pelos motivos que tentarei explicar a seguir.

Foto de piermario no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Essa pergunta dele fez com que eu pensasse em como cria-se o hábito de generalizar. De atribuir conceitos ou verdades absolutas a determinadas pessoas.  De como essas generalizações fazem com que a gente deixe de ter uma visão mais ampla acerca de certas questões e de como isso nos limita. É difícil compreender que além das influências que são fruto de nossa educação e das nossas experiências, também temos escolha. E a escolha que eu ou que você faz pode não ser a ideal para o outro. Eu Cláudia, feminista ativista, independente,  que sempre trabalhei fora e gosto muito do que faço posso não achar que seja legal que uma mulher fique só em casa, cuidando do lar, dos filhos, do marido. Ou que ela não ache certo pagar as próprias contas, acreditando ser essa a “função” (ou obrigação) do homem. Mas e se essa foi a escolha dela e foi consensual? Se é isso que a faz feliz, posso eu julgá-la?

Evidentemente, muitas das nossas escolhas são norteadas pelos valores que nos são transmitidos.  Estamos tod@s submetid@s, ainda que indiretamente, aos interesses de grupos dominantes e às suas ideologias incansavelmente difundidas para manter o status quo. Só que há uma linha bem tênue entre a tentativa de romper com o status quo e infringir liberdades individuais. E quando falo em liberdades individuais, me refiro a ideia de que podemos viver como bem entendermos, desde que não tentemos impor isso a ninguém como “modelo”, como o correto.

Acho bem simplista falar  “no que toda mulher quer”.  Cada mulher pode querer muitas coisas diferentes, as vezes, todas ao mesmo tempo. Ela pode querer ser astronauta, ou ser mãe. Pode querer ter um amor ou vários. Pode querer viver a vida toda com os pais ou sair por aí para conhecer o mundo inteiro. Pode querer aprender coisas novas ou não. Pode sonhar com o casamento ou com uma carreira brilhante, ou em ter tudo isso junto. Por que não? É mesmo necessário separar?

Escolher é algo diretamente ligado a ser livre. É algo bastante pessoal, que remete a uma série de fatores alheios ao nosso controle. É uma atitude que certamente trará consequências. Não sei se a resposta que dei ao meu amigo fez com que ele refletisse um pouco sobre isso, se fez com que ele entendesse que não existe um padrão de comportamento ou de vontade homogêneo inerente à todos os indivíduos.  Mas espero que ele tenha entendido que a queixa dele nada tem a ver com todas as mulheres.  Mulheres que deveriam sim ser iguais… Em ter seus direitos assegurados, sobretudo o da escolha.