Este texto é o relato de Tássia Hallais* sobre uma violência diária que pode acontecer com qualquer pessoa, mas que verificamos cotidianamente ser um tipo de violência fácil de ocorrer com mulheres, porque somos desde pequenas ensinadas a não reagir, a aceitar caladas e isso é o que na maioria das vezes esperam de nós.
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Na manhã do dia 07 de março sofri uma agressão no metrô do Rio de Janeiro pelo simples fato de ter agido com educação. Eu estava na estação e quando o metrô chegou me posicionei na lateral da porta para que as pessoas pudessem primeirodesembarcar. Aparentemente foi esse meu gesto que irritou um homem que estava perto de mim e ele se sentiu no direito de me dar um empurrão, o que me obrigou a entrar de maneira abrupta. Já dentro do vagão ele começou a gritar comigo e a me ofender gratuitamente. Quando fui me defender, explicando que estava esperando o desembarque e que não havia motivo para o empurrão, ele me empurrou novamente e seguiu com as ofensas.
O metrô não estava lotado, mas tinha um número razoável de passageiros. Ninguém me defendeu. Não havia nem ao menos um guarda da concessionária por perto. Só encontrei um quando já havia saído da área de embarque e não era mais possível localizar o agressor. Senti-me completamente impotente e humilhada. Acredito que o fato de ser mulher tenha sido decisivo para ter sofrido esta agressão completamente desnecessária. Sou magra e baixa e o homem que me destratou tinha por volta de um metro e noventa. Essa desvantagem natural minha em relação a ele, aliada à completa inércia dos demais passageiros não só permitiu como, acredito, incentivou seu comportamento de “homem das cavernas”.

Meu caso não é isolado, pois todos os dias várias mulheres sofrem agressões semelhantes, ou piores, do que a sofrida por mim nos meios de transporte do Rio de Janeiro e nada ou muito pouco acontece para punir os agressores. Os casos de violência e desrespeito são tantos que até temos na cidade uma lei estadual que destina vagões exclusivos para as passageiras em trens e metros nos horários de maior movimento. Esse tipo de atitude, apesar de bem intencionada, reflete o quanto ainda sofremos discriminações e agressões pelo único fato de termos nascido com o gênero considerado ainda por muitos como inferior.
Não podemos e não queremos viver prisioneiras de nossas casas, mas como nos sentir seguras se uma simples viagem de metrô/ ônibus/ trem pode acabar em agressão? Como explicar para as meninas que elas podem ser o que quiserem, até mesmo presidentas, mas que vão precisar de leis que lhes garantam ganhar o mesmo que os homens em funções iguais? Como entender que muitos ainda achem que mulher gosta mesmo é de ser maltratada? E os pequenos machismos presentes no nosso dia-a-dia, que mesmo aparentemente inofensivos contribuem para a manutenção dos estereótipos de ser homem e ser mulher?
Nós não precisamos ganhar flores ou cartões no Dia Internacional da Mulher. O que nós queremos é respeito. Não só no dia 8 de março, mas em todos os dias. Nós queremos a liberdade de ir e vir, de pensar, de sentir, de escolher e que nossas atitudes não sejam julgadas ou classificadas por conta de nosso gênero. Somos mais que isso. Não queremos os estereótipos. Queremos simplesmente ser.
*Tássia Hallais tem 23 anos, mora no Rio de Janeiro e é estudante de Comunicação Social da UFRJ.