Marcha das Vadias chega a terra do carvão

Texto de Geovana Gambalonga.

Pipocava nas mídias sociais a notícia de que neste ano a Marcha das Vadias se estenderia por várias cidades brasileiras. Mulheres e homens de todos os lugares se preparavam aquecendo os debates e confeccionando belos cartazes recheados de palavras de ordem. Enquanto isso em Criciúma, cidade do interior do Estado de Santa Catarina, não se ouviam sequer sussurros e muitas se mobilizavam para participar do evento na capital, Florianópolis.

Marcha das Vadias Criciúma/SC 2012. Foto do Coletivo Murro

Cerca de duas semanas antes do acontecimento, algumas pessoas conversavam e se perguntavam… Seria possível algo tão grande em uma cidade que não debatia o assunto? Num impulso tudo foi decidido, evento criado no facebook e a articulação para a divulgação passou a tomar força. Os dias passavam, pessoas aderiam à organização, divulgavam o evento no mais antigo sistema de comunicação que já foi criado: boca a boca.

Nunca se havia visto falar de uma manhã tão movimentada, tão bem articulada, demonstrando quanta sujeira e beleza havia em um só lugar. Tantas pessoas, menos do que as esperadas, mas ardorosamente acolhidas, foram chegando e seu juntando a ciranda que se formava na Praça Nereu Ramos, no coração da cidade. Tomando o microfone, uma a uma, construíram uma manhã de debates, de desmistificação das tantas vadias que dão nome a marcha, de palavras de ordem que transbordavam dos cartazes que pendiam de uma mimosa cordinha estendida entre as árvores.

Num momento simbólico, um homem sentindo-se preterido na defesa de seus direitos, urrando aos quatro ventos que homens eram vítimas de estupro e sofriam nas mãos das mulheres exigia compaixão dos presentes, uma vez que seu clamor era mais justo do que estas tais vadias que ousam marchar. Uma típica atitude de alguém que ainda não compreendeu que a luta das mulheres é em defesa de seus direitos de liberdade, de expressão social e sexual, principalmente o respeito as suas escolhas. A luta é para sermos protagonistas de nossa própria história.

Marcha das Vadias Criciúma/SC 2012. Foto do Coletivo Murro.

Com o fim dos debates mulheres e homens tomaram seus cartazes e seguiram em marcha no entorno da praça surpreendendo os transeuntes que se perguntavam estupefatos… Existem feministas em Criciúma? Quem são essas vadias? A semente foi plantada e permanecerá viva, porque a história começou há algumas semanas antes da Marcha das Vadias, mas não teve fim com este ato. Muita luta virá e Criciúma estará fazendo parte. Nasce um movimento de luta na cidade do carvão.

*Esse texto contou com a colaboração de Jéssica Vieira Mendes.

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Geovana Gambalonga é advogada, feminista, adora livros e internet e nas horas vagas bate uma bolinha.